Por que torci para Camarões e, no próximo jogo, torcerei para a Coreia

Já me disseram que não tenho “lugar de fala” para me pronunciar sobre futebol, já que sou praticamente indiferente ao jogo. Tendo sido batizado gremista – sim, porque o fervor futebolístico é, como a religião, via de regra transmitido de pais para filhos ! – fui ao estádio apenas três vezes (duas delas levado por um pai igualmente sem entusiasmo, apenas cumprindo seu dever) e outra, com amigos, no campo do time rival. Sequer conheço nomes de jogadores de “meu time” (motivo de troça para meus filhos, colorados por influência materna) e para mim tanto faz se ele está na primeira, segunda ou terceira divisão.

Posto isto, admito que minha indiferença ao esporte se converte em franca hostilidade em tempos de copa do mundo, quando assisto a todos os jogos do Brasil que posso – torcendo, é claro, para o time adversário. Isto por que considero o futebol, assim como a religião, certos tipos de música, reality shows, o culto às celebridades e qualquer coisa que eu tenha eventualmente esquecido, o próprio atraso civilizatório.

Qualquer indivíduo minimamente esclarecido deveria se envergonhar de cultuar o esporte. Ele faz parte do complexo de pão e circo que distrai as pessoas de coisas que realmente importam. Na verdade, assumiu tamanho protagonismo que o circo parece suficiente até mesmo onde falta o pão – algo que nenhum imperador romano teria sequer imaginado.

Pensem na atenção midiática dedicada ao futebol, enormemente desproporcional à cobertura de outros esportes e assuntos mais importantes. Mas não é só isto. A indústria internacional do futebol favorece a desigualdade. De, pelo menos, duas maneiras distintas. Primeiro, comparem os ganhos médios de quem está dentro de campo com os de quem está nas arquibancadas. Um parêntesis: este raciocínio vale menos para jogos de copa do mundo, cujos ingressos, bem caros, são acessíveis apenas a uma elite capaz de arcar com os altos custos de passagens, alimentação e hospedagem para viajar pelo mundo, Me refiro, ao invés, aos estádios de times locais, que congregam num único grito torcedores abastados e miseráveis (ok, talvez isto não seja tão verdadeiro, pois dizem que todos os ingressos andam caros – fora do alcance, portanto, de miseráveis).

E este é precisamente o segundo ponto em relação ao favorecimento da desigualdade. Por que a justaposição maciça de torcedores ricos e pobres, ainda que em setores diferentes dos estádios, com acesso filtrado pelo preço do ingresso, reforça a ilusão de um povo feliz unido em torno de um mesmo… circo. Como o crente depauperado que se sente privilegiado por louvar o mesmo deus que um pastor milionário.

Outro aspecto pouco lembrado é a contradição entre o globalismo de uma cena onde jogadores são negociados entre grandes clubes por fortunas, como animais, independentemente de fronteiras; e o nacionalismo celebrado por um campeonato, que acontece a cada quatro anos, entre jogadores selecionados segundo o país de origem de cada um. É compreensível, no entanto, que se faça vista grossa a esta incoerência – pois, afinal, o que importa mais: onde se joga ou onde se nasceu ? – já que mais campeonatos significam mais dinheiro. Senão, para que dois campeonatos brasileiros e duas copas latino-americanas ?

Por tudo isto, vibrei com o gol de Camarões. Gostei mais ainda da comemoração do atleta, tirando a camisa mesmo sabendo que seria expulso. Ele sabia que aquele placar não alterava em nada a classificação do grupo. Chegou até a cumprimentar o juiz (que sorria visivelmente ao aplicar os cartões amarelo e vermelho). Era como se estivesse a dizer ” – Fuck the Cup ! “. Naquele instante, se tornou meu herói no certame.

No próximo jogo, torcerei pela Coreia. Mesmo sendo improvável que o Brasil perca. Afinal, ainda faltam várias oportunidades em que alguma seleção possa nos redimir de ser o famigerado “país do futebol”. Racista, faminto, violento, desigual mas, ainda assim, penta campeão do mundo.

Blues eleitoral (ii): por que derrotas da esquerda nas urnas me entristecem tanto

Por que tenho filhos. Para entender melhor esta afirmação, tão lacônica, é preciso, antes, embarcar numa regressão ao passado. Não a um passado distante. Basta, para tanto, retrocedermos uns 50 anos, ao tempo de minha infância e juventude.

Quando eu era criança, brincava na rua. Jogava bola e taco com amigos em terrenos baldios. Quando jovem, explorava a cidade, a pé ou de ônibus, sem grandes riscos. Hoje, vivemos um crescente processo de condominização. Nossas crianças brincam em espaços protegidos, cercados por grades de ferro e cercas elétricas e vigiados por câmeras de segurança, e estudam em escolas particulares cujo acesso é guardado por leões de chácara. O comércio de rua é cada vez mais substituído por shoppings, protegidos por forte aparato de segurança, onde se pode comprar tranquilamente sem ser importunado, longe da vista de excluídos que, por sua vez, são banidos para fora de nosso campo visual nesses ambientes assépticos, segregados. Dos cinemas de rua, então, nem é preciso falar.

Com todos esses indicadores, só não vê quem não quer que, na última metade de século, a fratura social só aumentou. E se hoje ainda é possível se viver dentro da bolha de inclusão, é só por que a moral religiosa (a recompensa pós-morte) e as forças da lei, seja por meio de uma polícia cada vez mais capenga ou de empresas de segurança e milícias privadas cada vez mais fortes, ainda funcionam como um fator repressivo de dissuasão em relação a anseios insurgentes.

Mas toda conformidade tem um limite. E chegará o dia, no qual a desigualdade atinja um nível inaceitável para a maioria, em que aqueles fora do cinturão de miséria hão de se rebelar. Será o Grande Levante. Nesse dia, não adiantará você dizer que, mesmo tendo carro, casa própria e comida para sua família, você não pertence a uma elite abastada e gananciosa. A fúria popular se estenderá igualmente a quem quer que ostente qualquer coisa que seja interpretada como um sinal de riqueza, com as massas miseráveis submetendo a todos a uma justiça sumária, sem direito a contraditórios ou ampla defesa. Será o colapso de todas as instituições que hoje sustentam, ainda que precariamente, os privilégios de alguns.

Meritocracia ? Bullshit. Se galgamos, no mundo, posições de vantagem, tais se devem, primordialmente, a diferenças nas condições iniciais, tais como heranças ou acesso ao topo da pirâmide educacional. Sei. Sempre há o caso do miserável que logrou, a muito custo, estudar e ser alguém na vida. Mas isto, longe de ser a regra, é uma exceção que, sempre que descoberta, é glamourizada. A TV adora essas coisas. É a célebre história, vivida por Juliana Paes, da boleira de rua que vira dona de uma rede de confeitarias. Não que histórias assim não existam. Mas não é absolutamente o caso da imensa maioria, que não pode ser acusada de falta de criatividade nem tampouco de força de vontade. É a grande falácia do empreendedorismo ao alcance de todos.

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Sempre que eleições se aproximam, começam nas redes sociais debates acalorados sobre quais candidatos mentem mais ou alicerçam suas candidaturas sobre falsas promessas. Numa dessas trocas de farpas, alguém disse, muito apropriadamente, que políticos em campanha são, antes de tudo, atores representando a si mesmos como personagens. Tal é a mais pura verdade, independentemente de viés ideológico.

Concordei de pronto e acrescentei que, por isto, numa eleição presto pouca ou nenhuma atenção a promessas e programas de cada candidato, me atendo, antes, em identificar qual deles se afina mais com ideais tais como, de um lado, o lucro, o crescimento, a desregulamentação e o estado mínimo ou, de outro, o combate à desigualdade. Ou seja, a velha dicotomia entre direita e esquerda que, ainda que muitos queiram ultrapassada, nunca foi tão atual. A partir disto, e exclusivamente disto, escolho meus candidatos.

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Se eu não tivesse filhos nem tampouco ligasse para o futuro da humanidade, pensando bem pragmaticamente poderia até escolher políticos que defendessem um matriz ideológica que mantivesse, pelas poucas décadas de vida que me restam, privilégios amealhados até aqui. Mas depois que a gente tem filhos, a busca de um mundo melhor para eles ou para seus filhos se torna um imperativo, quase uma obsessão. Espero com todas as minhas forças que eles nunca tenham que passar pelo Grande Levante. Consoante a isto, voto sempre o mais à esquerda que me é possível.

A quem interessa o saldo positivo da balança comercial ou o crescimento da produção industrial ?

Uma das principais diferenças entre governos de esquerda e de direita talvez seja a ênfase publicitária que dão aos índices econômicos e de desenvolvimento. Isto é compreensível e esperado, já que a empatia dos primeiros é primordialmente pelo povo enquanto a dos últimos, pelo capital empreendedor.

Assim, enquanto antes do impeachment de Dilma as joias da coroa da propaganda oficial eram as taxas de desemprego, fome e analfabetismo, hoje o que o Planalto mais apregoa são dados revestidos de otimismo em relação à balança comercial, à produção industrial e às bolsas de valores. Aqueles hoje no poder só não falam mais de inflação e taxas de juros e câmbio por que a evolução de tais índices econômicos derivativos já vinham bem desde antes da deposição de Dilma – não podendo, portanto, ser utilizados como propaganda do governo atual em detrimento do anterior.

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De uns tempos para cá, já se tornou um lugar comum vermos nos noticiários escândalos de corrupção contrabalanceados por notícias auspiciosas em relação à balança comercial, à produção industrial e às bolsas de valores, como se tais índices fossem automaticamente bons para o país. Será ? Quando o país vende mais do que compra; quando a indústria produz mais ou quando sobem os preços especulativos das ações, isto é bom para quem ? Como a parte da população que não aufere ganhos de capital (i.e., a maioria) se beneficia com isto ? Ora, tais supostos avanços não fazem a menor diferença na vida das hordas de famintos, analfabetos e desempregados abaixo da linha de pobreza. Então, é preciso pensar antes de comemorar.

A euforia do crescimento econômico serve, principalmente, para mascarar o desempenho sofrível de índices de desenvolvimento humano em razão do desmonte de direitos trabalhistas e da rede previdenciária, bem como da desoneração progressiva, por parte do estado, de serviços anteriormente prestados.

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Um pouco desta ciranda de índices é revelada num interessante artigo, ainda que proselitista (pró-PT), publicado no jornal Nexo. Nele, tomamos conhecimento, entre outras coisas, de um obscuro coeficiente desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini para quantificar a desigualdade na distribuição de renda. Observando seu desempenho, notamos que, ainda que o mesmo tenha recuado consistentemente sob os governos de Lula e Dilma, o Brasil ainda está entre os lugares mais desiguais do mundo. E tudo indica que, a persistir a orientação econômica de nossos governos, a desigualdade tende a se acirrar.

Ainda é muito cedo para avaliarmos o impacto da breve Era Temer no conjunto destes índices. Só que, depois das eleições de 2018, talvez seja tarde demais – pois se leva, geralmente, muitos anos, ou vários mandatos presidenciais, para se estabelecer ou reverter qualquer tendência na evolução destes números. Os meses que nos separam do pleito são, então, decisivos para que a nação opte pela primazia do trabalho sobre o capital ou vice-e-versa. Ou, ainda, se legaremos a nossos filhos um país mais igualitário ou, como parece estar se delineando, de escravos e milionários.

Por que toleramos abusos cometidos por elites governantes; ou Onde falha o Jogo do Ultimato

É um grande equívoco considerar Yuval Noah Harari um historiador, ainda que sua formação deponha neste sentido. Pois seus escritos o definem muito mais como um filósofo que usa e abusa da história a fim de argumentar em favor de sua visão de mundo. Talvez por isto leitores mais rigorosos reputem suas narrativas como sensacionalistas, sem o devido rigor histórico. Ou não. Posso mudar de ideia, pois estou apenas a um terço da leitura de seu segundo livro, Homo Deus.

Para quem, como eu, estava entusiasmado com sua obra inaugural, Sapiens, o progresso através das páginas de Homo Deus pode ser um tanto decepcionante, posto que a maioria das ideias que ali se encontram já foram minuciosamente formuladas em seu primeiro livro. Isto tão somente até percebermos que, enquanto Sapiens pretende ser um um livro de história e, como tal, dedicado à ausculta do passado; Homo Deus retoma as mesmas ideias – só que, desta vez, no intuito de especular sobre o futuro.

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Uma das questões mais recorrentes a todo brasileiro contemporâneo mais ou menos informado é por que, afinal, apesar do abuso generalizado perpetrado por nossa classe política contra o povo, este último teima em permanecer, conquanto perplexo, absolutamente inerte. Não pretendo, aqui, conclamar nenhum levante armado nem tampouco alguma ruptura radical. Quero, tão somente, chamar a atenção para uma possível explicação para este estado de coisas segundo a concepção teórica de Harari. Para tanto, preciso que me acompanhem ao longo de uma linha argumentativa nada breve. A ela.

A hipótese de Harari para o fato do homo sapiens ter subjugado todas as demais espécies – levando, inclusive, muitas delas à extinção – difere da noção mais comumente aceita pelo senso comum de que a inteligência e a capacidade para a confecção de ferramentas são as competências que mais nos diferenciam de outros animais. Sustenta, ao contrário, que o que assegurou o domínio hegemônico de nossa espécie sobre as demais foi a capacidade de colaborar em grande escala e com flexibilidade em torno de objetivos comuns. Indo adiante, afirma que só desenvolvemos isto em razão de outra capacidade – a saber, a de criar realidades imaginárias compartilhadas por milhões de indivíduos, tais como religiões, nações ou dinheiro.

Grande parte dos capítulos iniciais de Homo Deus é dedicada à discussão de que

outras espécies de animais tem sensações, emoções e, quiçá, consciência análogas às humanas; e que

assim como outros animais, humanos tampouco são providos de alma.

Ao discutir a colaboração flexível em larga escala entre humanos, Harari a distingue da colaboração possível entre bandos com menos de 150 indivíduos por meio de dois experimentos, familiares a economistas e cientistas sociais, os quais, por conveniência, citamos extensivamente.

[…] o Jogo do Ultimato, um dos mais famosos experimentos em economia comportamental. Este experimento é em geral conduzido com duas pessoas. Uma delas ganha cem reais, que tem de dividir com o outro participante do jeito que quiser. Pode ficar com tudo, dividir ao meio ou entregar ao outro a maior parte. O outro pode ter uma de duas atitudes: aceitar a divisão sugerida ou rejeitá-la totalmente. Se rejeitá-la, ninguém fica com nada.

As teorias econômicas clássicas afirmam que humanos são máquinas de calcular racionais. Elas sugerem que a maioria das pessoas vai ficar com 99 reais e oferecer ao outro participante 1 real. Prosseguem sugerindo que o outro participante vai aceitar a oferta. Uma pessoa racional à qual se ofereça um real sempre dirá sim. Que lhe importa que outro jogador fique com 99 reais ?

Os economistas clássicos provavelmente nunca saíram de seus laboratórios e salas de conferência para se aventurar no mundo real. A maior parte daqueles que jogam o Jogo do Ultimato rejeita ofertas muito baixas por que as considera “injustas”. Preferem perder um real a serem vistos como babacas. Como é assim que funciona o mundo real, poucas pessoas fazem ofertas muito baixas e oferecem trinta ou quarenta reais ao outro jogador.

A partir deste resultado, Harari conclui que

sapiens não se comportam segundo uma lógica matemática fria, e sim de acordo com uma cálida lógica social.

Mais adiante, continua:

Em um experimento recente, o primatologista Frans de Waal pôs dois macacos-prego em duas jaulas adjacentes, de modo que cada um pudesse ver o que o outro estava fazendo.  De Waal e seus colegas puseram pequenas pedras em cada jaula e treinaram os macacos a lhes darem essas pedras. Toda vez que um macaco entregasse uma pedra recebia comida em troca. No começo, a recompensa era um pedaço de pepino. Os dois macacos gostaram muito e comeram os pepinos com satisfação. Depois de algumas rodadas, De Waal passou à fase seguinte do experimento. Dessa vez, quando o primeiro macaco cedeu uma pedra, ganhou uma uva. Uvas são muito mais saborosas que pepinos. No entanto, quando o segundo macaco deu uma pedra, recebeu uma fatia de pepino. Esse macaco, até então muito feliz com seu pepino, ficou enfurecido. Pegou-o e por um instante olhou incrédulo para ele; depois jogou-o com raiva nos cientistas e começou a saltar e a guinchar ruidosamente. Ele não era nenhum otário.

Esse hilariante experimento (que você pode ver no YouTube), assim como o Jogo do Ultimato, gerou uma crença de que os primatas possuem uma moralidade natural e que a igualdade é um valor universal e atemporal. As pessoas são igualitárias por natureza, e sociedades em que prevalece a desigualdade não podem funcionar bem devido ao ressentimento e à insatisfação.

Mas as coisas são realmente assim ? Essas teorias podem funcionar com chimpanzés, macacos-prego e pequenos bandos de caçadores-coletores. Também funcionam bem no laboratório, onde são testadas em pequenos grupos de pessoas. Entretanto, quando se observa o comportamento de massas humanas, revela-se uma realidade completamente diferente. A maior parte dos reinos e impérios humanos foi extremamente desigual, mas muitos foram surpreendentemente estáveis e eficientes.

Depois de ilustrar a última assertiva com a desigualdade reinante tanto no Egito dos faraós como na Prússia de Frederico II, Harari pergunta:

Por que os camponeses egípcios e os soldados prussianos agiram de modo tão diferente do que poderíamos esperar com base no Jogo do Ultimato e no experimento com macacos-prego ? Por que o comportamento de um grande número de pessoas é fundamentalmente diferente daquele apresentado por um agrupamento menor. O que veriam os cientistas se realizassem o experimento do Jogo do Ultimato com dois grupos de um milhão de pessoas cada, em que tivessem que dividir 100 bilhões ? Provavelmente eles testemunhariam uma dinâmica estranha e fascinante. Por exemplo, como um milhão de pessoas não são capazes de tomar decisões coletivamente, cada grupo teria de fazer brotar uma pequena elite governante. E se uma elite oferecesse à outra 10 bilhões, reservando para si 90 bilhões ? Os líderes do segundo grupo poderiam muito bem aceitar essa oferta injusta, injetar a maior parte dos 10 bilhões em suas contas em bancos suíços, enquanto contornavam a rebelião de seus seguidores com uma combinação de punição e recompensa. A liderança poderia ameaçar punir severa e imediatamente os dissidentes, ao passo que prometeria aos submissos e pacientes uma recompensa duradoura no pós-vida. Era isso que acontecia na Egito antigo e na Prússia do século 18, e é assim que as coisas ainda funcionam em vários países do mundo.

Harari conclui, então, que

[…] toda cooperação humana em grande escala baseia-se em última análise na nossa crença em ordens imaginadas. […] Sapiens usam com frequência marcas visuais, como um turbante, uma barba ou um terno formal para sinalizar: “Pode confiar em mim, acredito na mesma história em que você acredita”.

Ora, se substituirmos, nos parágrafos acima, as duas elites governantes a dividir os 100 bilhões por políticos e grandes empresários, teremos uma metáfora perfeita do atual cenário nacional. E os milhões por eles governados não terão,  conforme Harari e ao contrário do sugerido pelo Jogo do Ultimato, nenhuma resistência a serem tidos como babacas ou otários.

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Anteriormente no mesmo livro, Harari explica que a história não instrumenta quem a conhece a prever o futuro – algo que reputa como impossível – mas contribui para que se evite repetir erros cometidos no passado. Oxalá fosse mais lido entre nós !