O pequeno pode não ser necessariamente belo, mas razões científicas comprovam que o grande é frequentemente ruim
Dúzias de estudos documentam como a concentração industrial está induzindo a desigualdade de renda. A arma fumegante, no entanto, não é mostrada. Pesquisadores intuem mas não conseguem provar que monopólios, particularmente no nível local, afetam os salários de consumidores.
Num monopólio, uma empresa é a única vendedora e pode cobrar os preços que quiser. Num monopsônio, é a única compradora e pode pagar os preços e salários que quiser. Amazon, por exemplo, se tornou a monopsonista na indústria de livros, como a principal compradora das editoras, estabelecendo os preços pelos quais os livros são vendidos. Para algumas profissões, uma empresa pode estabelecer salários.
Recentemente, economistas começaram a observar o problema do monopsônio no mercado de trabalho tão somente para descobrir quão ruim a situação é.
A evidência é deprimente. Os economistas Marshall Steinbaum, Ioana Marinescu e José Azar examinaram mercados de trabalho nos EUA para verificar quão concentrados são os empregados. Descobriram que a maior parte das zonas de troca onde trabalhadores procuram por emprego são altamente concentradas, e isto arrasta os salários para baixo. Os resultados da redução de salários são altamente problemáticos. Eles demonstraram que ir de um mercado de trabalho muito competitivo para um altamente concentrado é associado a uma redução salarial entre 15 e 25%.
O mercado de bens é nacional, enquanto a busca por emprego ocorre localmente. Isto ajuda a explicar por que mercados ideais, perfeitamente competitivos, são, de fato, um mito. O estudo de Steinbaum mostra que este insight é correto. Ele e seus colegas apontam que “os mercados de trabalho mais concentrados, e aqueles nos quais o efeito da concentração nos salários é maior, são os rurais.”
Empresas podem pressionar trabalhadores de muitas formas para achatar salários. Os economistas Jason Furman e Alan Krueger mostraram que muitas firmas podem suprimir salários através de comportamentos monopsonísticos, tais como conluio, acordos de não competição e impedindo empregados de participar processos legais de classe. Em 2015, Jonathan Baker e Steven Salop identificaram o poder de mercado como possível fator de crescimento da desigualdade da riqueza nos EUA. Lina Khan e Sandeep Vaheesen observaram como a precificação monopolizada é uma forma de taxação regressiva em que o lucro descartável de muitos se transforma em ganho de capital, dividendos e compensação executiva para uns poucos. “Evidências de um número de indústrias chave nos Estados Unidos indicam que poder de mercado excessivo é um problema sério.”
Alguns monopólios pagam muito bem uns poucos sortudos. O pagamento tende a aumentar com o tamanho da firma. O professor Holger M. Mueller, da New York University, e seus colegas descobriram que diferenças salariais entre trabalhos mais e menos especializados aumentam com o porte da firma. Eles também demonstraram que há uma relação forte entre a variação no tamanho da firma e a crescente desigualdade salarial na maioria dos países desenvolvidos. Eles afirmam que aquilo que muitos interpretam como um movimento amplo em direção à maior desigualdade salarial pode ser causado por um aumento no emprego pelas maiores firmas da economia.
A tendência em direção a empresas cada vez maiores está alargando, em empresas dominantes, o abismo entre os poucos que são pagos espetacularmente bem e a maioria dos norte-americanos cujos salários estão estagnados. O economista David Autor e seus colegas concluíram num recente artigo que a ascensão de firmas “superstar“, com altos lucros e relativamente pequenas forças de trabalho, contribuiu para o encolhimento da participação dos trabalhadores na renda nacional e, ao mesmo tempo, um aumento correspondente da participação dos lucros.
Preços mais altos
A principal razão pela qual reguladores permitem uma orgia de fusões e aquisições é que as empresas combinadas, as “NewCos” em jargão financeiro, são supostamente mais eficientes e podem proporcionar preços menores para consumidores através de economias de escala. Se alega que o bem-estar dos consumidores aumenta quando duas ou três empresas dominam completamente a indústria. Conforme folhas de pagamento são cortadas e empresas conquistam o cálice sagrado das “sinergias”, reduzindo a contabilidade dupla e funções legais e de recursos humanos pela diluição dos mesmos entre várias empresas, tal economia é magicamente estendida aos compradores.
Transferir economia de custos a consumidores é uma história maravilhosa sem base na realidade. Dúzias de estudos econômicos mostram que negócios não se tornam mais eficientes após uma fusão. A verdade é que eles simplesmente se tornam mais rentáveis por que ganham poder de mercado e podem evitar custos mais altos. O professor Rodolfo Grullon descobriu, em seu principal estudo sobre concentração industrial, que não há correlação clara entre o uso eficiente de ativos e concentração. A principal razão pela qual empresas enriquecem é por terem maior poder de mercado.
Um recente artigo dos economistas Justin Pierce, do Federal Reserve Board of Governors, e Bruce Blonigen, da University of Oregon, mostra que fusões resultam em preços maiores, com pouca evidência de maior produtividade e eficiência. Eles também investigaram detalhadamente se fusões aumentam a eficiência por meio da redução de custos administrativos e da maior produtividade de ativos – mas, outra vez, encontraram pouca evidência em favor destes grandes pleitos. Isto corrobora o trabalho dos economistas Jan de Loecker e Jan Eeckhout, que mapearam um aumento do crescimento empresarial de 18% em 1960 para 67% hoje. Em bom português, a margem de lucro das empresas cresceu por que elas puderam aumentar preços, e não por que se tornaram mais eficientes.
A prova é tão esmagadora que torna imperiosa a questão de por que autoridades antitruste permitem que empresas se fundam. Empresas sempre exercem lobby para pleitear em própria causa junto a reguladores e legisladores, alegando que exercerão sua responsabilidade de poder de mercado. Firmas usam economistas contratados para criar modelos “provando” que fusões reduzirão preços. Mas, uma vez que as fusões acontecem, os preços misteriosamente sobem. Isto nos lembra as resoluções de Ano Novo para perder peso, que na hora parecem ótimas, mas que rapidamente se esvaziam tão logo donuts e pizzas apareçam.
Hoje, empresas King Kong e Godzilla dominam o mercado, asfixiando o crescimento econômico, estrangulando trabalhadores, aumentando preços para consumidores e exacerbando a desigualdade. Às vezes a realidade é mais estranha do que a ficção.
Adaptado de O Mito do Capitalismo: Monopólios e a Morte da Competição (The Myth of Capitalism: Monopolies and the Death of Competition). Wiley, Novembro de 2008.
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