Textos sombrios (ii): o futuro do trabalho

Advertência: devo aqui ruminar mais um pouco na linha pessimista de meu texto anterior, desta vez sobre o que esperar, num futuro não muito distante, de uma civilização cujos indivíduos, principalmente nos últimos 500 anos, passaram cada vez mais a definir sua existência pelo trabalho.

Um ser humano típico, exercendo uma ocupação formal (i.e., com garantias e vínculos reconhecidos), passa, via de regra, durante sua vida, por três idades distintas, a saber, a formativa, na qual se prepara para ingressar no mundo do trabalho; a da produção, quando exerce a ocupação para a qual foi treinado; e a terceira, eufemisticamente chamada de “melhor idade” e geralmente associada à aposentadoria, na qual já não tem a oferecer à sociedade a mesma energia vital de outrora, sendo, portanto, dispensado dos esforços (mas não dos tributos !) exigidos dos mais jovens.

Se o ócio é mais aceitável em idosos do que em gente mais jovem, tal se deve principalmente a razões econômicas como menor produtividade e custos mais elevados advindos de adoecimento. Tais imperativos são via de regra esquecidos ou ignorados com o uso de expressões como “terceira” ou “melhor” idade, que possuem uma carga semântica, respectivamente, neutra ou francamente mais positiva do que, simplesmente, velhice. Uma espécie de recompensa por uma vida dedicada a não se sabe muito bem o quê. Alguma dúvida, até aqui, sobre o fato de que a linguagem é, sim, ideológica ?

(da mesma forma que me incomodam anúncios de bancos com pessoas sempre sorrindo (quem já viu coisa parecida, i.e., rostos sorridentes num atendimento bancário típico, no mundo real ?), também tenho uma aversão cética em relação à propaganda de planos e serviços de saúde e previdência para idosos no qual os mesmos são retratados invariavelmente felizes. Tal situação não corresponde de  modo algum ao que se vê em instituições, beneficientes ou de luxo, na qual velhos recebem cuidados enquanto lá são deixados para envelhecer e morrer)

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A distinção geralmente aceita entre trabalho (o que se faz para (sobre)viver) e lazer (o que se faz por prazer ou enriquecimento espiritual pessoal) é uma relativamente recente na história da humanidade quando observada numa escala de tempo mais ampla.  Com efeito, desde nossos ancestrais caçadores-coletores, passando pela idade agrícola e até a idade média (deixando, é claro, de lado o trabalho escravo), jornadas de trabalho eram mais curtas, o trabalho facultativo, e não havia uma distinção clara entre o que o ser humano fazia pela própria subsistência ou apenas por prazer. Entre caçadores-coletores, por exemplo, canto, dança e histórias ao redor da fogueira eram uma necessidade tão vital quanto alimentação ou abrigo e, se alguém eventualmente não quisesse participar da caçada, não havia problema algum, pois seria de bom grado alimentado pelo bando (vide Economistas estão obcecados pela “criação de empregos”. E se trabalhássemos menos ?, no final do oitavo parágrafo).

É razoável, portanto, supor que a noção de trabalho como a temos hoje tenha se originado com a divisão de classes nas revoluções comercial e industrial – já que, antes, não fazia qualquer sentido a ideia de exploração do trabalho humano por terceiros. Foi só com a maximização do lucro obtido, primeiro com a comercialização e depois com a fabricação, de bens que passou a ser importante o aproveitamento de toda a força de trabalho, só limitado pelas conquistas trabalhistas. A partir daí a história é conhecida, com reivindicações sindicais e, mais recentemente, proteção da infância e reconhecimento de direitos iguais para mulheres.

Quanto ao lazer, é tolerado indiscriminadamente em idosos (já que “socialmente inúteis”); um pouco menos em crianças (só depois da realização dos deveres escolares) e muito pouco entre adultos. Pelo menos entre adultos trabalhadores, não ricos (rentistas). Notem que tanto adultos como crianças devotam suas melhores horas (aquelas em que estão mais dispostos) ao estudo e ao trabalho, lhes sendo concedidas para o próprio lazer apenas aquelas em que estão, na maioria das vezes, exaustos, só esperando o sono, por sua vez restaurador para uma nova jornada de esforços nos quais, muitas vezes, não percebem qualquer sentido. Mas não vou me deter nos bullshit jobs, tão bem descritos e estudados por David Graeber na obra que resenhei aqui. Graeber dedica seu livro “aos desempregados, que são quem efetivamente cuida dos outros”.

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Estudiosos de Oxford estimaram, já em 2013, a probabilidade de extinção, nos 20 anos seguintes, das principais profissões que conhecemos hoje. A lista (compilada por Harari em Homo Deus e citada aqui), encabeçada por operadores de telemarketing e corretores de seguros, é impressionante.

Face a esta realidade onipresente, não surpreende que agremiações de classes ocupacionais, reeditando o movimento ludista (trabalhadores que, no início da revolução industrial, quebraram máquinas num gesto desesperado para tentar manter seus empregos), tentem garantir a manutenção de suas profissões, as quais vão se tornando obsoletas face a avanços tecnológicos irreversíveis. Como, por exemplo, carteiros numa era de comunicações digitais; taxistas em meio a aplicativos de transporte; vendedores de lojas concorrendo com o comércio eletrônico; caminhoneiros (que já tiveram sindicatos poderosos, como mostrou recentemente Martin Scorcese em O Irlandês) em estradas cada vez mais povoadas por veículos autônomos; caixas em bancos e postos de cobrança de estacionamento em shopping centers e operadores em qualquer atividade outrora existente que, em tempos recentes, foi contemplada com o auto atendimento.

Quando o declínio progressivo da quantidade de postos de trabalho em razão da automação crescente e da proliferação do do it yourself e do self service, não tardará o dia em que, em razão da necessidade minguante de trabalhadores, a divisão de classes, ainda hegemônica, entre patrões (proprietários) e trabalhadores (empregados), será rendida totalmente obsoleta. Harari estima que, numa futura sociedade voltada para o lazer, uma das únicas profissões ainda em demanda será a de programador de jogos. Tal contexto já foi bastante explorado em obras de ficção – como no filme de animação Wall-e (2008), rara distopia para o público infantil, onde uma humanidade ociosa e obesa migra para outro planeta, deixando para trás uma Terra suja e esgotada, povoada por robôs faxineiros.

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Alguém já observou, com muita propriedade, que atividades como a caça ou a pesca, que nos primórdios da história humana eram consideradas uma espécie de trabalho (ainda que, como dissemos acima, não havia uma distinção clara entre trabalho e lazer como a que temos hoje) são atualmente exercidas por muitos francamente como lazer. Ao mesmo tempo, sem entrarmos no mérito da questão sobre se cada uma das atividades abaixo arroladas se constitui ou não, no entender de Graeber, num bullshit job, é difícil imaginar algum prazer (exceto, é claro, o da gratificação econômica) experimentado pelo operador de uma máquina numa linha de produção industrial; por vendedores no comércio varejista ou e por burocratas dedicados ao tráfego de informações, seja em papel ou por meios digitais, em bancos, tribunais, cartórios ou repartições de toda sorte. Notem que uma parte considerável da população economicamente ativa exerce, em nome da própria subsistência, alguma destas atividades.

Reconhecer tal estado de coisas implica, necessariamente, num impasse em se tratando de educar indivíduos para o assim chamado mundo da produção. Como educar filhos para viver num mundo em que a sobrevivência (mais: a própria identidade individual) ainda depende fundamentalmente do trabalho quando não temos razões para acreditar que, num futuro não muito distante, o trabalho ainda existirá como fator hegemônico de definição da existência humana ?

Neste cenário, ainda tido pela maioria como pessimista mas cada vez mais aceito como realista, há quem se atreva a propor utopias capazes de lidar com o problema do desemprego generalizado. Uma destas vertentes é a da renda mínima universal (UBI, para universal basic income), que prevê o aporte pelo estado de uma quantia substancial a cada cidadão, suficiente para lhe garantir uma existência digna, independentemente do mesmo pertencer ou não à força de trabalho. O holandês Rutger Bregman é um dos principais representantes desta corrente, esmiuçada em detalhe em sua obra Utopia para Realistas, de 2016.

Também digna de nota é a candidatura à presidência dos EUA, ainda neste ano, de Andrew Yang, que defende a concessão pelo governo de mil dólares mensais a cada cidadão. Antes, no entanto, de saudarmos a renda mínima como um projeto de esquerda e nos entusiasmarmos com a plataforma de Yang, é preciso que se diga que ele a vê, antes de tudo, como um modo ideal de estimular – pasmem ! – o empreendedorismo. Vem, meteoro.

Utopia para Realistas (2016), de Rutger Bregman

Quando meu amigo Ivo Eduardo me recomendou, num comentário sob uma postagem que fiz no facebook sobre renda mínima, Utopia para realistas (2016), do historiador holandês Rutger Bregman, logo desconfiei que se tratava de um grande livro, por já ter traduzido dois artigos do autor, respectivamente, sobre trabalhos inúteis (“bullshit jobs“) e redução da jornada de trabalho. Consoante a isto, tratei logo de obter o volume e passá-lo à frente de minha fila de leitura (a grande vantagem dos livros sucintos: o de Bregman tem só 225 páginas, fora as notas).

As notas. Ocupando 28 páginas (mais de 10% do livro, portanto), denotam inequivocamente um dos principais traços do estilo do autor, a saber, o de comprovar toda e qualquer alegação sua – muitas das quais contundentes, na contramão do senso comum – por meio de farta bibliografia de estudos e pesquisas já conduzidos e disponíveis online para quem quiser conferir. Há mesmo uma seção inteira dedicada a explicar o que é um estudo controlado randomizado, ou ECR (aqueles com grupos de controle) – como, por exemplo, um realizado no Quênia em 1998 para investigar o efeito da ajuda humanitária sob a forma de doação de livros escolares. Curiosidade: o primeiro ECR de que se tem notícia foi realizado no século VII a.C. e relatado na bíblia.

Outra faceta convidativa do estilo de Bregman é a fragmentação de cada capítulo em seções com subtítulos que não passam de duas páginas. Com isto, fica mais fácil interromper e retomar a leitura, bem como localizar passagens específicas em referências futuras.

De resto, seu estilo é francamente aforístico (como, suponho, num manual de autoajuda), incessantemente conclamando o leitor a alguma linha de conduta em prol do progresso social.

Dito isto, deixemos de lado o estilo do texto para nos concentrarmos em seu conteúdo. Como o título indica, se trata de uma utopia, alicerçada sobre três princípios centrais: a implementação de (1) uma renda mínima universal; de (2) jornadas de trabalho radicalmente mais curtas (idealmente, 15 horas semanais, como previra Keynes em 1930) e (3) a abolição de todas as fronteiras nacionais.

Discutindo a renda mínima, Bregman cita exemplos históricos, a começar por sua quase implementação nos EUA por Nixon,  citando inúmeros estudos realizados sobre populações que já a experimentaram. Tais estudos tem por principais objetivos a derrubada de mitos tais como os de que uma renda mínima universal seria demasiado onerosa ou de que, ainda, induziria à indolência e/ou ao oportunismo. Ao fim, estudos conduzidos sobre populações que já foram submetidas a programas de renda mínima demonstraram que

o custo de tais programas é significativamente menor do que aqueles outros, assistenciais e paliativos, destinados a mitigar os efeitos da pobreza; e que

sujeitos contemplados com uma renda mínima, ao contrário de se resignarem a não trabalhar e a consumir os recursos que lhes foram destinados com alcoolismo e drogadição (como muitos detratores acreditam), usam os mesmos para custear despesas de subsistência, utilizando o tempo livre, não mais comprometido com empregos subremunerados ou mesmo inúteis, para buscar ocupações socialmente significativas.

Ao longo do livro, Bregman sustenta várias teses interessantes. Dignas de nota são

a história do PIB (produto interno bruto); suas limitações; o mito da sustentabilidade de modelos econômicos baseados em crescimento constante e a necessidade de novos índices para aferição do progresso social;

o mito de que o setor privado (indústria e serviços) é mais barato e o público (saúde e educação), muito caro; para refutá-lo Bregman se vale dois itens excluídos do PIB, a saber, os custos ocultos do setor privado e os benefícios ocultos do público.

o fenômeno dos empregos inúteis (bullshit jobs), citando amplamente David Graeber, autor do ensaio de 2013 no qual cunhou o termo e do livro de 2018 totalmente dedicado ao tema;

a relação inversa normalmente verificada entre a utilidade e a remuneração de cada trabalho (quanto maior a importância social, menor a remuneração, e vice-e-versa); por esta regra, garis, enfermeiros e professores (profissões que produzem riqueza) ganham muito menos do que, por exemplo, advogados, lobistas e operadores financeiros (profissões que transferem riqueza). No sugestivo capítulo intitulado Por que não vale a pena trabalhar em banco, Bregman compara o efeito imediato (negociação após 6 dias) da greve dos lixeiros de Nova Iorque em 1968 com a dos bancários da Irlanda em 1970, suspensa depois de 6 meses por não ter produzido qualquer resultado esperado pelos grevistas;

a permanência de modelos falidos por meio da ideologização da credulidade,  sintetizada pela máxima “pessoas inteligentes não utilizam seu intelecto para obter a resposta correta; usam-no para obter o que elas querem que seja a resposta” (citando Ezra Klein em How politics makes us stupid).

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Conquanto brilhantemente defendida e fartamente documentada, a utopia de Bregman não é, como qualquer utopia, de fácil implementação. Seu estabelecimento depende da adoção progressiva, por parte de lideranças internacionais importantes, de um ou mais dos três princípios arrolados no quinto parágrafo deste post. Sua aceitação, no entanto, por parte de eleitores, não é nada simples, implicando, antes, uma revolução cultural para desinstalar falsos pressupostos “naturalizados”, tais como, por exemplo, o mito do crescimento contínuo e o valor incondicional do trabalho.

Felizmente, a pauta de Bregman, contra todas as expectativas mais conservadoras, já faz parte do discurso político, começando pela candidatura à presidência dos EUA em 2020 de Andrew Yang, que pretende, entre outras coisas, dar a cada cidadão norte-americano a quantia de 1000 dólares por mês, independentemente de estarem desempregados ou inscritos em qualquer programa de assistência ao desemprego. Oxalá iniciativas assim proliferem !

O Futuro do Trabalho, Robotização e a Capacidade do Capitalismo para gerar Empregos Inúteis

O valor de seu trabalho não deveria ser medido pelo seu salário

Publicado em Evonomics por Rutger Bregman, em 17 de maio de 2017

Originalmente publicado em World Economic Forum

 

Muito já foi escrito em anos recentes sobre os perigos da automação. Com previsões de desemprego em massa, redução de salários e desigualdade crescente, obviamente devemos todos nos preocupar.

Hoje, não são mais apenas os observadores de tendências e tecnoprofetas do Vale do Silício que estão apreensivos. Em um estudo que já acumula mais de uma centena de citações, pesquisadores da Universidade de Oxford estimaram que não menos do que 47% de todos os empregos norte-americanos e 54% dos europeus correm alto risco de serem substituídos por máquinas – não em torno de cem anos, mas nos próximos vinte. “A única diferença real entre céticos e entusiastas é uma questão de tempo”, diz um professor da New York University. “Mas daqui a um século, ninguém vai mais se preocupar sobre quanto tempo levou, mas com o que aconteceu depois”.

Admito que já ouvimos isto antes. Empregados já vem se preocupando com a maré ascendente de automação por 200 anos, e por 200 anos empregadores vem dizendo que novos empregos se materializarão para substituí-los. Afinal, por volta de 1800, cerca de 74% dos norte-americanos eram fazendeiros, enquanto que em 1900 este número caiu para 31% e, em 2000, para meros 3%. Ainda assim, isto não resultou em desemprego em massa. Em 1930, o famoso economista John Maynard Keynes previa que estaríamos todos trabalhando apenas 15 horas por semana em 2030. Todavia, desde os anos 80 o trabalho vem consumindo cada vez mais nosso tempo, trazendo consigo ondas de stress e esgotamento.

Enquanto isto, o cerne da questão sequer vem sendo discutido. A grande pergunta que deveríamos fazer é: o que constitui realmente “trabalho” nos dias de hoje ?

O que é, afinal, “trabalho” ?

Em um levantamento de 2013 com 12.000 profissionais pela Harvard Business Review, a metade dos entrevistados declarou que seu trabalho não tinha “sentido e significado” e um número equivalente não se via inserido nas missões de suas empresas; enquanto outra pesquisa com 230.000 empregados em 142 países mostrou que apenas 13% dos trabalhadores realmente gostavam de seu trabalho. Uma pesquisa recente entre britânicos revelou que 37% deles tinham trabalhos que consideravam inúteis.

Eles possuem aquilo a que o antropólogo David Graeber se refere como “bullshit jobs”. No papel, tais trabalhos parecem fantásticos. Há mesmo hordas de profissionais de sucesso, com perfis de Linkedin vistosos e salários impressionantes, que no entanto voltam para casa todos os dias resmungando que seu trabalho não serve a propósito algum.

Deixemos outra coisa clara: não estou falando aqui de lixeiros, professores ou enfermeiros espalhados pelo mundo. Se estas pessoas entrassem em greve, teríamos em mãos um estado de emergência instantâneo. Não. Falo nos crescentes exércitos de consultores, banqueiros, conselheiros de impostos, gerentes e outros que ganham seu dinheiro em encontros estratégicos inter-setoriais entre pares para especular sobre valor agregado e co-criação na sociedade conectada. Ou algo no gênero.

Então, ainda haverá empregos suficientes para todos daqui a algumas décadas ? Qualquer um que tema desemprego em massa subestima a extraordinária capacidade do capitalismo de gerar bullshit jobs. Se realmente quisermos colher as recompensas pelos tremendos avanços tecnológicos das últimas décadas (incluindo a ascensão da robótica), precisamos redefinir radicalmente nossa definição de “trabalho”.

O paradoxo do progresso

Partimos de uma questão antiga: qual o sentido da vida ? Muitos dirão que o sentido da vida é tornar o mundo um pouco mais belo, mais aprazível ou mais interessante. Mas como ? Hoje, nossa principal resposta a isto é: através do trabalho.

Nossa definição de trabalho é, entretanto, incrivelmente estreita. Somente trabalho que gere dinheiro pode ser computado no PIB. Não é prá menos, então, que organizamos a educação em torno de fornecer o maior número possível de pessoas, em parcelas flexíveis, ao mercado de trabalho. Ainda assim, o que acontece quando uma proporção crescente de pessoas consideradas bem sucedidas segundo a régua de nossa economia do conhecimento diz que seu trabalho é inútil ?

Este é um dos grandes tabus de nossos tempos. Todo nosso sistema de atribuir sentido poderia de dissolver como fumaça.

A ironia é que o progresso tecnológico exacerba esta crise. Historicamente, a sociedade foi capaz de absorver mais bullshit jobs precisamente por que robôs vem se tornando melhores. À medida em que fazendas e fábricas se tornaram mais eficientes, contribuíram para o encolhimento da economia. Quanto mais produtivas a agricultura e a manufatura de tornaram, menos pessoas empregaram. Chamem a isto o paradoxo do progresso: quanto mais ricos nos tornamos, mais tempo temos para desperdiçar. Como diz Brad Pitt no Clube da Luta: “Frequentemente, trabalhamos em empregos que detestamos só para comprar aquilo de que não precisamos”.

Chegou a hora de pararmos de dar as costas ao debate e focar no problema real: como seria nossa economia se radicalmente redefiníssemos o sentido de “trabalho” ? Acredito firmemente que uma renda mínima universal seja a resposta mais eficiente ao dilema da robotização crescente. Não por que robôs assumirão todo o trabalho útil, mas por que uma renda mínima daria a cada um a oportunidade de realizar algum trabalho que tenha sentido.

Acredito num futuro em que o valor de seu trabalho não seja determidado pelo tamanho de seu salário, mas pela quantidade de felicidade que você espalhe e de sentido que você dê. Acredito num futuro em que o objetivo da educação não seja prepará-lo para mais um trabalho inútil, mas para uma vida bem vivida. Acredito num futuro em que “trabalho seja  para robôs e vida para pessoas”.

E se a renda mínima lhe soa utópica, então eu gostaria de lhe lembrar que todo marco civilizatório – do fim da escravidão à democracia e aos direitos iguais para homens e mulheres – foi um dia uma fantasia utópica. Ou, como escreveu Oscar Wilde há muito tempo: “O Progresso é a realização de Utopias”.

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Rutger Bregman é historiador e escritor, publicando na plataforma holandesa de jornalismo online The Correspondent. É autor de Utopia for Realists: How We Can Build the Ideal World, publicado por Bloomsbury na Reino Unido e por Little, Brown nos EUA. Twitter: @rcbregman

 

Há algum problema que trabalhar menos não resolva ?

A solução para praticamente tudo: Trabalhar menos

Publicado por Rutger Bregman em Evonomics

Traduzido por Augusto Maurer

Se você tivesse perguntado ao maior economista do século 20 qual seria o maior desafio do século 21, ele não precisaria pensar duas vezes.

Lazer.

No verão de 1930, bem quando a Grande Depressão adquiria força, o economista britânico John Maynard Keynes proferiu uma conferência curiosa em Madri. Ele havia aventado novas ideias com alguns de seus alunos em Cambridge e decidiu torná-las públicas numa palestra breve chamada “Possibilidades Econômicas para nossos Netos.”

Noutras palavras, para nós.

Na época de sua visita, Madri era uma confusão. Desemprego crescia descontroladamente, o fascismo se alastrava e a União Soviética estava ativamente recrutando apoiadores. Poucos anos depois, uma guerra civil devastadora eclodiria. Como, então, podia o lazer ser a maior mudança ? Naquele verão, Keynes parecia vir de outro planeta.

 “Estamos sofrendo um ataque de pessimismo econômico,” escreveu. “É comum pessoas dizerem que a época de enorme progresso econômico que caracterizou o século 19 chegou ao fim…” E não sem razão. A pobreza era devastadora. Tensões internacionais cresciam e se precisaria da máquina mortal da Segunda Guerra Mundial para soprar vida novamente à indústria global.

Falando numa cidade à beira do desastre, o economista britânico arriscou uma predição contraintuitiva. Por volta de 2030, disse Keynes, a humanidade seria confrontada com o maior desafio jamais encarado: o que fazer com um mar de tempo livre. A menos que políticos cometam erros desastrosos (austeridade durante uma crise econômica, por exemplo), ele antecipou que dentro de um século o padrão de vida ocidental seria no mínimo o quádruplo do que era em 1930.

A conclusão ? Em 2030, estaremos trabalhando apenas 15 horas por semana.

Um futuro preenchido com lazer

Keynes não foi o primeiro nem tampouco o último a antecipar um futuro inundado por lazer. Um século e meio antes, o “pai fundador” americano Benjamin Franklin já havia previsto que quatro horas de trabalho por dia seriam, eventualmente, suficientes. Além daquilo, a vida seria toda “lazer e prazer”. E Karl Marx similarmente ansiava por um dia em que todos tivessem tempo “para caçar pela manhã, pescar à tarde, criar gado ao entardecer, criticar depois de jantar […] sem jamais se tornar um caçador, um pescador, um vaqueiro ou um crítico.”

Mais ou menos ao mesmo tempo, o pai do liberalismo clássico, o filósofo britânico John Stuart Mill, argumentava que o melhor uso de mais riqueza é mais lazer. Mill se opunha ao “elogio do trabalho” proclamado por seu maior adversário Thomas Carlyle (um grande defensor da escravidão, também, como acontece), o justapondo com seu próprio “elogio do lazer”. De acordo com Mill, tecnologia deveria ser usada para frear a semana de trabalho tanto quanto fosse possível. “Haverá mais tempo do que nunca para todos os tipos de cultura mental e progresso moral e social,” escreveu, “bem como para aprimorar a Arte de Viver.”

Ainda assim, a Revolução Industrial, que propeliu o explosivo crescimento econômico do século 19, trouxe exatamente o oposto de lazer. Enquanto um fazendeiro inglês no ano 1300 tinha que trabalhar ca. 1500 horas por ano para viver, um operário de fábrica na era de Mill precisava dedicar o dobro de tempo simplesmente para sobreviver. Em cidades como Manchester, uma semana de trabalho de 70 horas, sem férias nem fins de semana, era a regra até com crianças. “O que querem os pobres com feriados ?” ponderou uma duquesa inglesa ao fim do século 19. “Eles devem trabalhar !” Muito tempo livre é simplesmente um convite à maldade.

No entanto, por volta de 1850 um tanto da prosperidade criada pela Revolução Industrial começava a apelar às classes inferiores. E tempo é dinheiro. Em 1855, as mansões de Melbourne, Australia, foram as primeiras a assegurar um dia de oito horas.

Pelo fim do século, a semana de trabalho em alguns países já havia caído para menos de 60 horas. O dramaturgo nobelizado George Bernard Shaw predisse em 1900 que, naquela taxa, empregados em 2000 trabalhariam só duas horas por dia.

Empregados resistiram, naturalmente. Quando, em 1926, um grupo de 32 proeminentes empresários americanos foi perguntado sobre o que achavam de uma semana de trabalho mais curta, 2 acharam que a ideia tinha méritos. De acordo com os outros 30, mais tempo livre apenas resultaria em mais crime, dívida e degeneração. E não foi ninguém menos do que Henry Ford – titã da indústria, fundador da Ford Motors Company e criador do Modelo T – o primeiro a implementar, no mesmo ano, uma semana de 5 dias.

Chamaram-no de louco. Depois, seguiram seus passos.

Um capitalista “tingido na lã” e a mente brilhante por trás da linha de produção, Henry Ford descobriu que uma semana mais curta na verdade incrementava a produtividade de seus empregados. Tempo de lazer, observou, era um “frio fato econômico”. Um trabalhador mais descansado é um trabalhador mais eficiente. Além disto, um operário confinado em uma fábrica do amanhecer ao entardecer, sem tempo livre para viagens em estradas e passeios recreativos, jamais compraria um de seus carros. Como disse a um jornalista, “É tempo de nos livrarmos da noção de que tempo de lazer para trabalhadores é “tempo perdido” ou privilégio de classe.”

Em uma década, os céticos foram vencidos. A Associação Nacional de Indústria, que 20 anos antes advertia que uma semana de trabalho mais curta arruinaria a economia, então orgulhosamente se gabava de que os Estados Unidos tinham a mais curta semana de trabalho do mundo. Em suas recém-encontradas horas de lazer, trabalhadores logo estavam dirigindo seus Ford diante de cartazes da ANI que proclamavam, “Não há outro jeito igual ao americano.”

O Fim do Trabalho

Toda evidência pareciam sugerir que as grandes mentes, de Marx a Mill a Keynes a Ford, deviam estar corretas.

Em 1933, o senado norte-americano aprovou legislação introduzindo uma semana de trabalho de 30 horas. Apesar de lei ter sucumbido na Casa dos Representantes sob intensa pressão da indústria, uma semana menor permaneceu sendo a principal demanda dos sindicatos. Depois da Segunda Guerra Mundial, o tempo de lazer aumentou constantemente. Em 1956, o vice-presidente Richard Nixon prometeu aos americanos que eles não teriam que trabalhar mais do que 4 dias por semana “num futuro não muito distante”.

A audaciosa predição de Keynes se tornou um truísmo. Em meados dos anos 60, o relatório de uma comissão do senado projetou que por volta de 2000 a semana de trabalho seria de apenas 14 horas, com pelo menos 7 semanas de férias por ano. A corporação RAND, um think tank influente, vislumbrou um futuro no qual somente 2% da população seria capaz de produzir tudo que a sociedade precisasse. O trabalho seria em breve reservado à elite.

Conforme os 60 progrediram, alguns pensadores começaram a manifestar preocupações. O cientista político Sebastian de Grazia, ganhador do Pulitzer, disse à Associated Press que “Há razão para se temer […] que tempo livre, tempo livre obrigatório, traga o pulso constante do aborrecimento, da indolência, da imoralidade e da crescente violência pessoal.” E em 1974, o Departamento do Interior dos EUA soou o alarme ao declarar que “Lazer, tido por muitos como epítome do paraíso, pode muito bem se tornar o maior problema do futuro.”

Apesar destas preocupaçõoes, parecia haver pouca dúvida sobre o curso que a história definitivamente tomaria. Por volta de 1970, sociólogos falavam confiantemente no iminente “fim do trabalho”. A humanidade estava no limiar de uma verdadeira revolução do lazer.

O sonho esquecido

E a história tomou outro curso.

Nos anos 80, reduções da semana de trabalho tiveram ima interrupção dramática. O crescimento econômico não estava se traduzindo em lazer, mas em mais coisas. Em países como Austrália, Áustria, Noruega, Espanha e Inglaterra, a semana de trabalho deixou totalmente de ser reduzida. Nos Estados Unidos, efetivamente cresceu. Setenta anos depois que o país sancionou a lei das 40 horas semanais de trabalho, três quartos da força de trabalho trabalhava mais do que 40 horas semanais.

Mesmo cidadãos da Holanda – a nação com a menor semana de trabalho no mundo – sentiram o peso crescente do trabalho, tempo extra, assistência e educação desde os anos 80. Três quartos da força de trabalho holandesa se sentiam sobrecarregados por pressões de tempo, um quarto trabalhava habitualmente além do tempo e um em cada oito sofria sintomas de burnout.

Além do mais, trabalho e lazer vem se tornando progressivamente mais difícil de dissociar. Um estudo conduzido na Harvard Business School mostra que, graças à tecnologia moderna, executivos e profissionais na Europa, Ásia e América do Norte dedicam hoje de 80 a 90 horas semanais, “tanto trabalhando quanto monitorando trabalho ou permanecendo acessível.” E de acordo com pesquisa britânica, o smartphone faz o empregado médio trabalhar mais 460 horas por ano – quase três semanas.

É seguro dizer que as predições das grandes mentes não se tornaram exatamente realidade. Estamos muito atrás da profecia de Keynes. Por volta do ano 2000, países como França, Holanda e os Estados Unidos já eram cinco vezes mais ricos do que em 1930. Ainda assim ao adentrarmos o século 21 nossos maiores desafios não são lazer e tédio, mas fadiga e incerteza.

A solução para (quase) tudo

Recentemente, um amigo me perguntou: “O que trabalhar menos efetivamente resolveria ?”

Prerefi formular de outra forma: “Existe algo que trabalhar menos não resolva ?”

Stress ? Incontáveis estudos mostraram que pessoas que trabalham menos são mais satisfeitas com as próprias vidas. Numa recente enquete conduzida entre mulheres trabalhadoras, pesquisadores alemães chegaram a quantificar o “dia perfeito”. “a maior porção de minutos (106) irá para “relações íntimas”. Em último lugar na lista constava “trabalho” (36) e “deslocamento” (33). Os pesquisadores se limitaram a observar que que “no intuito de maximizar o bem-estar é provável que trabalho e consumo venham a ter menos importância em atividades diárias do que hoje.”

Acidentes ? Tempo extra é letal. Dias de trabalho mais longos levam a mais erros: cirurgiões cansados são mais propensos a cochilos e soldados que descansam pouco os olhos erram alvos mais facilmente. De Chernobyl ao ônibus espacial Challenger, está provado que diretores que trabalham demais são os que mais cometem erros fatais em desastres. Não é por coincidência que o setor financeiro, que deflagrou o maior desastre da última década, esteja absolutamente afundando em tempo extra.

Mudanças climáticas ? Um movimento mundial por uma semana de trabalho menor poderia cortar a emissão de gás carbônico neste século pela metade. Países com semanas de trabalho mais curtas tem indicadores ecológicos melhores.

Desemprego ? Obviamente, se pode simplesmente cortar um emprego em partes menores. O mercado de trabalho não é um jogo de cadeiras musical em que todos podem ocupar quaisquer assentos e tudo o que temos que fazer é trocar de lugar. Não obstante, pesquisadores na Organização Internacional do Trabalho concluíram que o trabalho compartilhado – no qual dois trabalhadores em tempo parcial dividem a carga de trabalho tradicionalmente associada a um trabalhador em tempo integral – é um grande avanço em direção a resolver a última crise. Particularmente em tempos de recessão com altíssimo desemprego e produção superando a demanda, empregos compartilhados podem ajudar a suavizar o impacto.

Emancipação das mulheres ? Países com semanas de trabalho mais curtas consistentemente lideram rankings de igualdade de gênero. O objetivo central é atingir uma distribuição mais igualitária do trabalho. Só quando os homens assumirem sua porção de cozinha, limpeza e outros trabalhos domésticos é que as mulheres serão livres para participar efetivamente da economia mais ampla. Noutras palavras, a emancipação feminina é um assunto de homens. Estas mudanças, entretanto, não dependem exclusivamente das escolhas de homens individuais; a legislação tem um papel importante a cumprir. Em lugar algum a diferença de tempo de licença maternidade/paternidade entre mulheres e homens é tão pequena como na Suécia, um país com um sistema verdadeiramente decente vigente para cuidado infantil e licença paternidade.

População envelhecendo ? Uma parte crescente da população mais velha quer continuar trabalhando mesmo depois de ter idade para se aposentar. Mas onde “trintões” se consomem em trabalho, responsabilidades familiares, hipotecas e luta pela aposentadoria mesmo que o trabalho ainda lhes faça bem à saúde. Então, além de distribuir empregos mais igualmente entre os sexos, também precisamos distribuí-lo entre as gerações. Trabalhadores jovens que recém estão entrando no mercado de trabalho podem muito bem continuar trabalhando até seus 80 anos. Em compensação, podem estar trabalhando não as 40 horas, mas talvez 30 ou 20 horas por semana. “No século 20 tivemos a redistribuição da riqueza,” observou um grande demógrafo. “Neste século, a grande redistribuição será em termos de horas de trabalho.”

Desigualdade ? Os países com as maiores disparidades em riqueza são precisamente aqueles com as mais longas jornadas de trabalho. Enquanto os pobres estão trabalhando por mais tempo e tendo que aderir a jornadas maiores, os ricos estão achando “mais caro” reduzir jornadas à medida em que seus lucros caem.

No século 19, era típico pessoas ricas delicadamente se recusarem a arregaçar as mangas. Trabalho era para camponeses. Quanto mais se trabalhasse, mais pobre se era. Desde então, vantagens sociais surgiram. Hoje, trabalho excessivo e pressão são símbolos de status. Reclamar do excesso de trabalho é muitas vezes uma tentativa de se sobressair como importante ou interessante. Tempo consigo mesmo é de pronto equiparado ao desemprego e à indolência, certamente em países em que a desigualdade na distribuição de riqueza se ampliou.

Não é preciso que seja desta forma. Podemos cortar uma grande parte de nossa semana de trabalho. Isto não apenas faria toda a sociedade bem mais saudável, com também poria um fim a indizíveis pilhas de trabalho inútil e mesmo tarefas perigosas (uma pesquisa recente descobriu que 37% dos trabalhadores britânicos achavam que tinham “trabalhos idiotas” [bullshit jobs]). Uma renda mínima universal seria a melhor forma de dar a todos a oportunidade de realizar mais trabalho incrivelmente importante, conquanto não remunerado, -tais como cuidar de crianças ou idosos.

A boa vida

Quando eu contei às pessoas, durante a escrita de meu livro, que estava abordando o maior desafio do século, obtive rapidamente sua atenção. Estava escrevendo sobre terrorismo ? Mudança Climática ? Terceira Guerra Mundial ?

Seu desapontamento era evidente quando eu introduzia o tema do lazer. “Todo mundo não vais estar colado na TV o tempo todo ?”

Eu era lembrado dos severos sacerdotes e homens de venda do século 19 que acreditavam que as plebes não seriam capazes de lidar com o voto, ou um salário decente, ou, pelo menos, o prazer; e que defendiam a semana de 70 horas como um instrumento eficiente na luta contra o álcool. Ironicamente, foi precisamente em cidades sobrecarregadas de trabalho, industriais, que mais e mais pessoas buscaram refúgio na garrafa.

Hoje vivemos numa era diferente, mas a história é a mesma: em países “sobretrabalhadores” como Japão, Turquia e, é claro, os Estados Unidos, pessoas assistem a uma quantidade absurda de televisão. Até cinco horas por dia nos EUA, o que equivale a nove anos de uma vida inteira. Crianças norte-americanas passam diante da TV a metade do tempo em que frequentam a escola. Lazer verdadeiro não é um luxo nem tampouco um vício. É tão vital para nosso cérebro como vitamina C para nosso corpo. Não há no mundo quem pense, em seu leito de morte, “tivesse eu ao menos passado mais algumas horas no escritório ou sentado em frente à TV”.

Certamente nadar num mar de tempo livre não será fácil. Uma educação do século 21 deve preparar gente não só para se juntar à força de trabalho mas, também (e mais importantemente), para vida.  “Uma vez que os homens não estarão cansados em seu tempo livre,” escreveu o filósofo Bertrand Russel em 1932, “eles não pedirão apenas diversões passivas e insípidas.”

Podemos  lidar com a vida boa, se ao menos tivermos tempo.

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Rutger Bregman é historiador e escritor. Ele escreve para a plataforma holandesa de jornalismo online The Correspondent. É autor de Utopia for Realists: How We Can Build the Ideal World. Twitter: @rcbregman

Este ensaio foi adaptado do livro mais recente de Rutger, Utopia for Realists: The Case for a Universal Income, Open Borders and a 15-hour Workweek

Publicado originalmente aqui.