Reality shows: anatomia de um desgaste

Depois de mais de duas décadas de hegemonia nas grades de programação da TV aberta, os reality shows finalmente apresentam (viva !) inegáveis sinais de desgaste. Não que não estivessem presentes antes. É que, agora, talvez pela primeira vez, os próprios realizadores se vem forçados a tomar providências para tentar garantir alguma sobrevida ao formato.

Fatos como a adoção, depois de mais de vinte anos (!), de um voto único, associado ao CPF, em cada votação ou, ainda, o telefone através do qual espectadores podem veicular críticas à produção do Big Brother são sintomas inquestionáveis disto. Tais sinais sugerem que emissoras estejam reagindo a audiências minguantes, numa tentativa de perpetuar uma fórmula até então bem sucedida que, todavia, começa a não mais convencer.

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Por mais que realizadores de realities apregoem, como no caso do telefone cujas ligações o próprio apresentador do programa estaria sempre pronto a atender (que belo golpe publicitário !…), é razoável supor que as demandas do público sejam editadas. Voltaremos a isto. Por hora, vejam, por exemplo, demandas, até certo ponto fáceis de atender, como:

que aconteçam mais provas de inteligência do que de resistência; ou

que a famosa xepa seja mais restritiva, como, por exemplo, um regime de pão e água;

e por aí afora. Até aí, tudo bem. Mas imaginem se espectadores começassem a reivindicar coisas como

opinar no processo de seleção dos participantes – numa tentativa, talvez, de quebrar o padrão de corpos jovens e esbeltos, que impera no programa, em favor de mais conteúdo mental. Tipo menos músculos, bundas e peitos e mais cérebro. Ou ainda

a supressão de publicidade dos patrocinadores nos cenários das provas. Já notaram como as marcas e as cores dos anunciantes nas arenas de provas demoradas dominam por muito mais tempo do que em comerciais de 30 segundos ? Vejam ainda o destaque dado no próprio programa ao carro ganho pelo vencedor do The Voice. Perto disto, o clássico merchandising de uma garrafa de Coca-Cola “casualmente” deixada sobre uma mesa de refeição em uma telenovela é uma perversão não mais do que tímida.

Não sei o que vocês acham, mas quero acreditar que emissoras jamais dariam ciência de demandas de telespectadores como as acima, que dirá atendê-las. Donde inferimos que o poder de edição dos realizadores sobre o desejo do público é a última coisa da qual estariam dispostos a abrir mão.

Eis o principal fator de distinção entre os broadcasting media – que, como o próprio nome já diz, concentra um enorme poder na definição de conteúdos nas mãos de seus proprietários – e as mídias sociais – nas quais, ao menos em tese, há uma certa isonomia na possibilidade de externar opiniões, doam a quem doer ou, até mesmo, quando não passam de asneira.

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A TV aberta vive de fofoca. Seus donos sabem disto e se aproveitam do fato. Realilies são o melhor exemplo disto. Não é por menos que a maioria deles seja sobre canto e culinária, matérias nas quais qualquer leigo se sente autorizado a opinar. Com o povo sarado do Big Brother (só eu acho que aquilo parece uma academia de ginástica ?), não é diferente. Por vezes, parece que, quanto mais raso, melhor. Maior o “engajamento” (adoro essa palavra !) popular. Tudo isto no único intuito de maximizar o alcance da mensagem publicitária. Imaginem, agora, se a competição fosse sobre astrofísica. Ou física quântica. Vislumbram algum possível engajamento ?

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Terminamos de assistir a mais uma temporada do The Voice (dizem que a última !), por sorte curta. Neste programa, o foco é muito mais no júri do que nos calouros. O sorrisão do Teló. Parece o gato de Alice. E já viram algum dos jurados falar algo desabonador sobre algum candidato ? E os perdedores, que sistematicamente escondem sentimentos de frustração por trás de um discurso de gratidão ? É só love. Hipocrisia pouca é bobagem. O mais irônico de tudo é que, em poucos anos, os jurados continuarão célebres enquanto que a maioria dos calouros, esquecida.

Se disponibilizassem um telefone do The Voice, nos moldes do telefone do Tadeu no Big Brother, as duas coisas que eu mais gostaria de ver reivindicarem seriam

participação popular na escolha das vozes selecionadas para aparecer no programa; e

disponibilização da íntegra da interação, entre um programa e outro (já que não são ao vivo) entre cada “técnico” e seu “time”. Pois desconfio de que pouco do que vemos e ouvimos possa ser atribuído à interferência dos técnicos.

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(notas rabiscadas às pressas depois da última edição do The Voice e antes da próxima do Big Brother)

Celulares

Como já sabe quem me acompanha no facebook, ontem me revoltei ante a obrigatoriedade de baixar um aplicativo em meu celular só para participar de um sorteio mediante a troca de notas fiscais de supermercado por cautelas para concorrer. Desisti na hora e desabafei na rede social. Para meu espanto (ou nem tanto), um coro de solidariedade reverberou minha irritação, senão com a onipresença de celulares, da qual nem vale a pena falar, pelo menos com a enxurrada de aplicativos que disputam a memória de nossos aparelhos. Com isto, o que era prá ser um insight fugaz acabou virando um post. Aguentem.

Até algum tempo atrás, se podia afirmar que todo indivíduo era univocamente identificado por seu CPF ou equivalente – como, por exemplo, o social security number nos EUA. Hoje, arrisco supor que celulares sejam mais universalmente populares do que números de cadastro governamentais. Com efeito, os celulares, conquanto provavelmente mais numerosos do que CPFs, só ainda não substituíram os últimos como meio de identificação unívoca por vários motivos, dentre os quais se destacam os fatos de que um indivíduo pode possuir mais de um celular e que celulares trocam de mãos muito facilmente, sejam eles vendidos ou roubados. Tudo bem, vá lá: CPFs também podem ser roubados.

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Meu primeiro celular, há mais de vinte anos, era um lingote com 2 cm de espessura, teclas mecânicas e um visor monocromático de quartzo líquido de 2 X 3 cms. Servia exclusivamente para originar e receber chamadas de voz e mensagens de texto. Ou seja, era aquilo que outrora chamávamos de telefone, com a inegável vantagem de ser móvel. Na ciranda das marcas que vem e vão, o mercado era dominado pela Nokia.

Algo bem diferente dos atuais smartphones (ou, como diz um amigo, espertofones). O mercado se esfacelou. Quem tem mais dinheiro – e quer gastar numa coisa dessas – tem um da Apple. Se, no entanto, entender o objeto como não mais do que um descartável, ficará com os da Samsung, best buy da hora. Marcas minoritárias como Motorola subsistem para dar suporte ao mito da virtude da livre concorrência.

Verdadeira maravilha tecnológica, ápice da miniaturização, um smartphone nada mais é do que um computador de bolso. O que era um mainframe virou um desktop que virou um laptop que virou um notebook que virou um tablet que, finalmente, virou um smartphone. Logo estaremos no próximo nível. Tenho um amigo que chama os celulares de próteses. Irônico, sem dúvida, mas também visionário, pois não está de todo errado ao preconizar (sei lá se ele pensou nisso) que, num futuro não muito distante, dispositivos computacionais e de comunicação entre indivíduos serão implantes cerebrais.

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Os celulares já atingiram tamanho poder computacional que as únicas razões remanescentes para alguém preferir uma plataforma fisicamente maior do que um smartphone é a dificuldade em 1) digitar textos maiores (outra coisa em extinção) num minúsculo tecladinho virtual (nunca aprendi a digitar só com os dedões); 2) visualizar planilhas amplas ou 3) armazenar volumes de dados maiores do que o usualmente necessário no cotidiano (um problema transitório, face à inexorável miniaturização das memórias digitais).

O ser humano é, por natureza, adaptativo, mas há limites. Nunca usei, por exemplo, um aplicativo bancário; prefiro sempre o homebanking. Infelizmente, muitos bancos vem deixando de oferecer opções nessa modalidade, exigindo, nestes casos, alguma ação a ser realizada exclusivamente em aplicativos – me obrigando, com isto, a baixá-los e instalá-los.

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Celulares e lifecasting. Não resta dúvida de que a possibilidade de fotografar e publicar imediatamente com celulares tornou o lifecasting muito mais fácil. Publicizar a própria vida é bem mais fácil hoje, tanto para diletantes como para ditos “influencers”, graças à sensibilidade dos projetistas destes aparelhos. Postar o que comemos, aonde vamos, o que vemos, lemos ou ouvimos ou até mesmo o que pensamos (!) é questão de cliques.

Sua majestade a experiência. Quem ainda não se sentiu incomodado por braços erguidos com celulares em shows, com milhares de pessoas diante de um palco onde as atrações só podem ser vistas em telões ? Com efeito, vi, esses dias, num grupo de WhatsApp, uma postagem de uma imagem do Macca num telão no Maracanã, ao fundo de uma formiguinha num palco que, presumo, fosse o próprio.

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Agora, a parte chata. Aquela menos objetiva, que diz de um mal-estar que sinto (e outros também), mas que ainda não consigo explicar, que dirá descrever. Mal-estar este que tem a ver com coisas que vamos deixando para trás em nome de inegáveis vantagens de avanços tecnológicos. Saudosismo ? Acho que não. O que pode haver de bom no abandono progressivo do aqui e do agora em favor de uma conectividade quase universal ? Dispor de engenhos de busca ? É bom. Criptomoedas ? Deve ser (ainda prezo cédulas na carteira). Dados na nuvem ? Idem. Mas se, depois de um tempo, isto for tudo o que restar ?

Quando aldeias se tornam cidades, o fato é saudado como um louvável aumento da proximidade entre pessoas e da fricção social. Em minha mania de imaginar cenários distópicos, percebo a conectividade quase universal (exceto, é claro, em recantos “excluídos” da África ou do Oriente) como um caminho acelerado para cenários de degradação civilizatória como em Blade Runner, Elysium ou Wall-E. Ou em Matrix.

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Não pretendia falar do fenômeno contemporâneo, cada vez mais comum, de grupos de pessoas fisicamente próximas, só que cada uma delas imersa na tela de seu celular. Casais em restaurantes, estudantes no intervalo entre aulas (ou mesmo durante as mesmas), pessoas no transporte público, etc. Só que uma situação recente me chamou a atenção, se revestindo de uma enorme carga simbólica.

Festa de Natal. Familiares e amigos que não se encontram há muito tempo reunidos, ao menos em tese, para rir, brindar e confraternizar. Súbito, me deparo com a seguinte cena: acomodadas em sofás dispostos diante de uma TV ligada, vejo quatro pessoas mergulhadas em seus celulares.

A hiperconexão ou o insuportável temor de se estar perdendo alguma coisa

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Raul Seixas

Me desconectei por completo. Não por alguma resolução consciente, voluntária, mas pela completa perda de interesse. Quando visito o Facebook menos de uma vez por semana, não consigo ficar muito tempo lá. Entrei no WhatsApp por necessidade de trabalho (quadros de avisos) e nunca leio o único grupo mais populoso do qual faço parte, no qual entrei por insistência de amigos e para não ter que dar explicações. Quando passei, agora há pouco, por meu blog gratuito, só prá ver se ele ainda existia ou já havia sido deletado pela WordPress, constatei que não escrevi nada nos últimos três meses.

Não que eu não tenha sentido, neste intervalo, nenhuma necessidade de escrever. Ao contrário. É um vício. Todos os dias, me surpreendo compondo mentalmente posts sobre os mais diversos temas para, logo em seguida, me perguntar: para que ? Primeiro, por que tudo o que eu disser já terá sido dito com mais propriedade algures por outrem e, segundo, por que, se ainda não tiver sido dito por ninguém, afinal, qual a importância, exceto para mim mesmo, do que eu teria a dizer ?

Vivemos numa era de excesso, camuflado em escassez apenas para valorizar artificialmente coisas comercializáveis. Excesso de informação, de produção de alimentos e outros bens e, o que mais nos interessa aqui, excesso de autoria. E neste excesso, o que não é produzido constantemente ou frequentemente atualizado, desaparece.

O fenômeno é bem conhecido. Já falamos aqui de clássicos do cinema menos visitados que, com o fim das locadoras e o alto preço da manutenção de conteúdos em servidores, se tornam indisponíveis e, portanto, invisíveis ou inexistentes. Há poucos dias falava com um amigo, compositor criativo, outrora presente nas redes através de seus CDs então recém lançados, que, ao googlar seu nome, descobriu que não mais existia no espaço virtual, já que não publicara nada nos últimos anos.

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Mas voltemos às redes. Quando as descobri, já tinha passado a febre do Orkut. Entrei no Twitter e logo migrei para o Facebook. Nunca tive a menor curiosidade pelo Instagram, pelo SnapShot ou pelo TikTok e, como já disse, só entrei no WhattsApp, que passo dias sem olhar, por necessidade de trabalho. Por isto, vejo com um misto de surpresa e curiosidade como tantas pessoas parecem ocupar, hoje, todo seu tempo disponível e mais um pouco com o feed de suas redes sociais. Nem acho mais preocupante, como já achei, que tais plataformas funcionem como sequestradores de atenção – pois, afinal, a mesma crítica pode ser feita a quaisquer outros meios e mensagens que favoritamos como, por exemplo, músicas, livros ou filmes.

O que mais me chama a atenção, nestes casos, são quais os mecanismos aditivos que levam usuários de plataformas sociais a querer saber, após cada conteúdo visitado, o que lhes reserva o feed em seguida. Não nos interessam, aqui, as razões financeiras que levam cada plataforma a “fidelizar” usuários desta forma, a nosso ver, doentia. O que me intriga é, na verdade, o que leva tantas pessoas a passarem tanto tempo grudadas num dispositivo a dedicar atenção a tantos conteúdos aleatórios um depois do outro.

Meio século atrás, a televisão já sofria esta crítica. Então, o que mudou foi a mídia, mas não o comportamento. Se este comportamento é, de algum modo, patológico, eu não sei. “Normalidade” e “adequação” são conceitos bem voláteis, que se amoldam ao espírito dos tempos. O que penso hoje é que, talvez, esta adição aos fluxos incessantes de informação estejam relacionados a uma noção do homem contemporâneo atualizado como aquele que tem ciência absoluta de tudo o que acontece a seu redor, dos círculos mais íntimos aos mais distantes, com um entendimento ou uma explicação satisfatória para tudo. Neste sentido, a assistência a fluxos intermináveis de informações contribuiria para atenuar a inquietante sensação de estarmos perdendo alguma coisa. Fora disto, seríamos não mais do que irremediáveis alienados. Só que, num mundo super conectado de informações abundantes, tal ideal é impossível ou, então, francamente patológico. Com a palavra os especialistas.

Fake Famous – uma experiência surreal nas redes (EUA, 2021)

Chegou ao HBO um novo documentário de denúncia sobre bastidores das redes sociais, mais ou menos na linha de O Dilema das Redes. Só que, enquanto o último se debruçava sobre algoritmos de distribuição visando a maximização do vínculo de plataformas com usuários e a coleta não consentida de dados sobre consumidores para comercialização, o tema de Fake Famous – uma experiência surreal nas redes é a fabricação de perfis falsos de influenciadores digitais bombados por milhares de seguidores inexistentes.

O documentário é uma realização do diretor estreante e jornalista veterano Nick Bilton, que recrutou em Los Angeles três voluntários sem quaisquer habilidades artísticas para produzir perfis falsos em redes sociais por meio de fotos glamorosas denotando estilos de vida que não tinham e inflados por milhares seguidores comprados (bots (robôs) que não correspondem a pessoas reais). Em poucos meses, tais perfis, alimentados por fotos assíduas curtidas e comentadas por bots, passam a receber gratuitamente produtos de marcas em troca de fotos ostentando os mesmos postadas no Instagram.

Se há algo de surreal nisto tudo é que nem as plataformas nem tampouco as marcas nelas promovidas, mesmo podendo identificar a proporção entre bots e pessoas reais na base de seguidores de influenciadores digitais, parecem se importar com o fato que que a maioria destes seguidores inexiste no mundo real. Pois o que importa, afinal, são os números e, é claro, que o dinheiro circule.

(aqui termina a resenha do filme;

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a seguir, algumas reflexões por ele suscitadas)

Tal desequilíbrio ecológico entre o que é investido neste tipo de publicidade e o que é efetivamente convertido em vendas não é, no entanto, nenhum privilégio da propaganda em redes sociais, já existindo desde os tempos dos anúncios em meios de broadcasting impressos e eletrônicos (rádio, TV, revistas e jornais). É, no máximo, uma tentativa de adaptação da prática bem antiga de bombardear, a altos custos, uma população indistinta na expectativa de que uns poucos indivíduos – quanto mais melhor – respondam favoravelmente a mensagem. Como pulverizar uma lavoura com pesticidas ou jogar panfletos de um avião para que apenas uma pequena parte dos mesmos atinja leitores interessados. Quem paga por tudo isto, incorporado ao valor dos produtos, são, é claro, os consumidores finais.

E chegamos, por fim, a esta figura emblemática do broadcasting que não faz, no entanto, qualquer sentido no contexto descentralizado (ou assim deveria ser) da internet, a saber, a celebridade.

A mídia tradicional, com seu número bem mais limitado de canais, depende da escolha, por vezes arbitrária (vide reality shows), de um número também limitado de celebridades suficientes para lhes prover conteúdo – celebridades, estas, modeladas por produtores por critérios de aceitação a fim de maximizar índices de audiência, principal atrativo dos canais de mídia para anunciantes que os sustentam.

Só que, na internet utópica, que promete uma comunicação bi-direcional e mais horizontal entre usuários, a ideia de celebridade não faz qualquer sentido. Redes sociais são regidas pelo número de Dunbar, que estima em 150 a quantidade de pessoas que a mente humana pode, em média, conhecer. Se isto for correto, então milhares de seguidores são, no mínimo, suspeitos enquanto milhões dos mesmos são, evidentemente, uma fabricação.

O documentário de Bilton foi ensejado pelo fato de que, no Instagram, 40 milhões de perfis possuem mais de um milhão de seguidores.

Net blues; ou O desencanto das redes

Há quase dois meses não escrevo neste blog. Acesso o facebook a cada dois ou três dias só para manter o hábito de felicitar uns poucos aniversariantes que conheço pessoalmente ou com quem já troquei ideias. Venho limpando as caixas de grupos de whatsapp dos quais participo mas não leio, usando o aplicativo somente para conversas bilaterais ou com pequenos grupos de trabalho, mais ou menos do modo como usava emails antes deles se tornarem um repositório generoso de mensagens “circulares” (i.e., genéricas, com mais de um destinatário).

A que se deve este, por assim dizer, cansaço ? Tenho, sem muito êxito, procurando respostas. Por muito tempo, redes sociais acalentaram a promessa de amplificar nossos contatos. As maravilhas do mundo conectado. A facilidade inédita de encontrar, muito mais do que entre nossos contatos presenciais, outros com os quais compartilharíamos afinidades, preferências, angústias ou indignação.

Contra esta miragem utópica, há o célebre número de Dunbar. Formulado pelo antropólogo Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, na década de 90, estima entre 1 e 230, com uma média em torno de 150, a quantidade de indivíduos que um ser humano pode, de fato, não apenas conhecer mas, também, saber como se relacionam com os demais membros do grupo. Vale notar que este costuma ser o tamanho de pequenas comunidades, como tribos, aldeias ou pessoas com interesses comuns.

Ora, redes sociais, talvez no intuito de potencializar interações, costumam admitir comunidades bem mais numerosas. O próprio facebook permite que alguém tenha até 5000 “amigos” antes de obrigar o dono de um perfil que atingiu este limite a converter sua página numa fan page. Não é preciso ser nenhum especialista em redes para saber que a diferença entre um perfil comum (com menos de 5000 amigos) e uma fan page (com mais de 5000) diz respeito, principalmente, à interatividade – pois, enquanto qualquer amigo de um perfil pode se dirigir ao mesmo, é vedado (ou, pelo menos, dificultado) aos seguidores de fan pages se dirigir aos donos das mesmas. Deste modo, enquanto perfis comuns podem se relacionar isonomicamente, de uma forma bilateral por default, fan pages são mais afeitas a celebridades – ou, num jargão mais moderno, influenciadores – voluntariamente blindadas ao feedback de seguidores. Por tais razões, postagens em perfis comuns podem ser consideradas como narrowcasting enquanto aquelas em fan pages, broadcasting.

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O que mudou: o facebook ou minha percepção sobre o mesmo ? Tampouco sei. Gostava de pensar que estava lá por causa de recomendações qualificadas, chegando mesmo a considerar meu feed na plataforma como minha rede pessoal de aprendizagem (ou PLN, para personal learning network). Só que cada vez menos encontro ali links interessantes ou linhas de navegação que eu tenha vontade de seguir. Será que minhas fontes secaram, ou é o algoritmo que anda me mostrando as fontes erradas ? Difícil responder.

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Faz pouco tempo que o documentário O dilema das redes adquiriu merecida notoriedade ao denunciar algo do que muitos já sabiam, a saber, que redes sociais, além de alimentar algoritmos cada vez mais sofisticados que servem à publicidade dirigida, também ampliam, para além do tamanho de grupos inofensivos, porquanto limitados pelo número de Dunbar, a fratura entre defensores de ideologias opostas, a qual pode, por sua vez, facilmente se converter em ódio. Pois, como disse uma vez um amigo, de forma apenas aparentemente simplória, “o ser humano, quando em grupo, é sempre mais idiota”.

Não estamos falando aqui, no entanto, deste perigo embutido nas redes, tão bem retratado no filme, mas, antes, de um tédio experimentado no uso das mesmas face à constatação de sua limitação em entregar o prometido e substituir, com isto, as redes presenciais.

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Para muitos, redes sociais trazem a sedutora promessa da publicidade dirigida. A democratização da propaganda, não mais limitada àqueles que podiam arcar com os altos custos da mesma junto a meios de broadcasting. A redenção dos pequenos negócios, que viram no network marketing a miragem de, finalmente, prescindirem de uma propaganda mais robusta e onerosa (e, a bem da verdade, anti-ecológica – pois quem, em sã consciência, ainda presta alguma atenção, depois do Google, em anúncios intercalados em páginas de impressos ou programas de rádio e TV ? Francamente, não entendo a sobrevida da publicidade, que ainda existe muito mais por teimosia de quem a faz do que por interesse de quem a consome…).

Mas não por muito tempo. É difícil não cansar de perfis pessoais dedicados a constantemente veicular mensagens comerciais. Por exemplo. Lá se vão já uns dez anos que uma blogueira que eu seguia no twitter declarou que estava deixando de seguir músicos, pois os mesmos só faziam anunciar shows dos quais participariam. Não sou totalmente contra o expediente – que deve, no entanto, ser usado muito parcimoniosamente, de tal modo que o network marketing jamais iguale ou supere, em número de postagens, o mindcasting. Ou mesmo, vá lá, o lifecasting.

Avatares

Dá gosto ver quando os arquitetos do facebook tentam algo que não emplaca. Não foi preciso navegar muito para descobrir, no início desta semana, a tentativa desengonçada de incentivar, por meio de uma nova facilidade, usuários da plataforma a substituírem seus avatares por graciosos bonequinhos padronizados.

Confesso que não tive a menor curiosidade de conhecer o brinquedo, mas deu prá entender que se trata, como naqueles kits usados por policiais para compor retratos falados, de uma ampla palheta de cores de pele e cabelo, penteados, formatos de rosto, barbas e bigodes, óculos, narizes, peças de vestuário e, mais importante que tudo, sorrisos e olhares simpáticos. Ora, bem disse Luiz Fernando Verissimo, numa crônica sobre o E.T., que “olhos de bambi não vale.” Pois, com eles, podemos nos encantar com qualquer monstrengo intergaláctico. Com os avatares do facebook não é diferente: todos são simpatissíssimos.

Praticamente junto com o lançamento do aplicativo veio a teoria, conspiratória ou não, de que a coisa não passava de mais uma tacada dos donos das redes para se apossar de dados de usuários. Bem no clima dos excelentes documentários, tão em voga, The Social Dilemma e The Great Hack (respectivamente, no Brasil, O Dilema das Redes e Privacidade Hackeada) – ao que alguns, mais atentos, retrucaram que, de qualquer maneira, as redes já tinham esses dados, independentemente de quaisquer avatares fofinhos.

Então, só para não chover no molhado, prefiro me concentrar, ao invés de numa suposta intenção maliciosa, oculta por trás do novo brinquedinho, por parte de seus inventores, antes na motivação, talvez inconsciente, que tem levado tantos, até mesmo os mais inteligentes, a flertar com a novidade.

Antes, porém, de auscultar o fascínio exercido pelos bonequinhos sobre usuários, vale notar ao menos um aspecto técnico que tem escapado às teorias conspiratórias mais criativas, a saber, a economia de servidores. Isto por que, por mais variadas que sejam as combinações possíveis dos elementos disponibilizados na palheta para confecção de avatares – de tal modo que, embora até possam existir avatares iguais, é improvável que existam dois avatares idênticos na rede de qualquer usuário – ainda é mais econômico armazenar digitalmente (i.e., ocupa menos bytes) cada variável que compõe um determinado avatar do que os pixels que seriam necessários para uma imagem de perfil. Ok, dirão que tal economia é muito pouca perto dos zilhões de bytes necessários para guardar o interminável stream de memes postados por cada perfil – mas, enfim, se trata, aqui, de apenas mais uma teoria conspiratória.

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O que, então, leva tanta gente a, ao menos a título de experiência, compartilhar seu avatar com amigos do facebook ? Aqui, deve ser dito que, embora muitos tenham experimentado criar seu próprio bonequinho, tenho visto poucos adotarem sua versão cartunizada como imagem de perfil – daí minha alusão, no início deste post, ao divertido fracasso da iniciativa. Entre as carinhas sorridentes a nos acenar, encontramos amiúde comentários irônicos (o melhor que vi foi “meu avatar, minhas regras”) e fotos de macacos, Smeegle e beldades vintage como Liz Taylor ou Sophia Loren.

As razões para a adoção das fofurinhas se resumem em dois de seus atributos: simpatia e juventude. Prá começo de conversa, tem os “olhos de bambi” (confesso, adoro a expressão, plenisignificante, proposta por LFV). Depois, as peles lisinhas, como em desenhos animados seriados (nos quais não há tempo hábil nem tampouco técnicos em número suficiente para aplicar texturas customizadas em superfícies), não têm acne, rugas, pés de galinha ou linhas de expressão (em suma, marcas de vida) a denotar a idade e/ou o passado dos proprietários de cada perfil.

Conquanto a palheta de opções (que, repito, desconheço) contemple satisfatoriamente a diversidade étnica ou a obesidade (o facebook é sempre politicamente correto), imagino o quanto deve ser difícil compor um avatar que pareça feio, sujo ou pobre. Pelo menos, até agora não vi nenhum assim.

Então, no mundo perfeito dos avatares do facebook, todos são simpáticos, saudáveis e limpinhos. Não há excluídos – o que é perfeitamente lógico numa plataforma onde, sabemos, todo usuário está na mira como um consumidor em potencial. Ok, dirão, mas, muito antes dos bonequinhos fofinhos do facebook, todo mundo já se auto-glamourizava em redes sociais. Concordo. O facebook não inventou (será ?) o fato de que, nas redes, todos são legais. Isto é uma aspiração dos usuários. O que a plataforma, no entanto, inegavelmente passou a oferecer é uma valiosa ferramenta para sua realização.

Como a peste acelera a agonia do broadcasting

Não é de hoje que a televisão aberta vem dando claros sinais de esgotamento frente a outros meios mais interativos ou, no mínimo, customizáveis. Quando perguntei, tempos atrás, a um de meus filhos qual o sentido dele navegar na web enquanto permanecia diante da TV ligada indiferente à mesma, sua resposta foi rápida e categórica: “é que aqui (no celular) tenho mais opções e maior controle sobre o que quero assistir”.

A grade de programação da TV comercial aberta se consolidou, grosso modo, como um mix de noticiários, telenovelas, reality shows, programas de entrevistas e variedades (geralmente com auditórios), filmes e seriados – estes últimos anteriormente referidos como “enlatados”. Com a pandemia, toda a rede de produção, pelas emissoras, das quatro primeiras categorias  acima colapsou.

Os auditórios foram os primeiros a desaparecer. Cada vez mais passamos a ver repórteres com máscaras e, pouco a pouco, apresentadores e âncoras começaram a transmitir de suas casas. Entrevistas e depoimentos passaram a ser obtidos por meio de videoconferência. Mesmo que alguns telejornais, com cenários e bancadas imponentes e estúdios super povoados,  ainda resistam, o formato está com os dias contados. Comparem, por exemplo, a parafernália envolvida (e diretamente associada ao conceito dos mesmos) em telejornais de abrangência nacional com aquela de seus primos mais pobres, os noticiários locais e regionais, que já aderiram a formatos mais econômicos.

Cabe, ainda, notar que, face ao colapso das estruturas de produção, a TV mergulhou numa profusão de reprises. Não só de telenovelas mas, também, de entrevistas requentadas e, espantosamente, partidas de futebol. Nunca antes acervos televisivos foram tão importantes.

Com tudo isto, os conteúdos veiculados pela TV estão cada vez mais parecidos com o que vemos habitualmente em redes sociais. Com a significativa vantagem, cabe lembrar, de que, em redes sociais (narrowcasting), podemos, ao contrário de na TV (broadcasting), 1) melhor custumizar conteúdos e 2) interagir, se assim o quisermos, com seus transmissores. Não é pouca coisa. Assim como não tem sido pouca a capacidade de rápida reação e adaptação da TV a novos contextos desfavoráveis desde o surgimento da internet. De modo que, diante de inequívocos sinais de mudança, é impossível prever a sobrevivência ou não de grandes conglomerados televisivos

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A TV sempre funcionou, tradicionalmente, em sintonia com valores centralizados. Poucas emissoras. Grandes patrocinadores. Programas tipo “one size fits all”, capazes de captar audiências num vasto território. Neste cenário, chama muita atenção campanhas como VAE (Vamos Ativar o Empreendedorismo), uma ode ao pequeno negócio. Se vingar, uma coisa é certa: empresas individuais ou familiares incentivadas pela supracitada campanha jamais estarão em condições de comprar as caras janelas publicitárias comercializadas por redes concessionárias de TV junto a grandes grupos empresariais.

Talvez a Globo não espere, com uma boa dose de razão, que, em decorrência da provável explosão de pequenos empreendimentos incentivados pelo VAE, seus grandes patrocinadores quebrem. O que denotaria uma disposição da emissora de, na impossibilidade de prever que ventos soprarão na economia, ficar bem com todo mundo, tanto grandes quanto pequenos. Numa posição corporativa, diga-se de passagem, perfeitamente razoável. Como a de empresas que, em eleições, doam para campanhas de candidatos rivais. Mas, como ninguém é bobo, trata de diversificar as fontes de seu capital de custeio. Isto pode ser claramente observado na agressividade com que vem promovendo seriados, nacionais e enlatados, em sua plataforma de streamming (pago) Globoplay. É como se, na incerteza de poder contar, num futuro não muito distante, com seu custeio maciçamente bancado por anunciantes, busque inclinar drasticamente sua matriz de financiamento para  consumidores finais de sua programação, até então acostumados a não pagar nada pelo que assistem na TV aberta.

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Em sua agonia, a TV não esconde a relação ambivalente que mantém com sua grande rival, a internet. Ao mesmo tempo em que tenta, desajeitadamente, assimilar atributos tão afeitos à web quanto estranhos ao broadcasting (como, por exemplo, o arremedo de interatividade das “votações populares” em reality shows), reivindica para si um suposto monopólio da credibilidade, por sua vez apregoada como o calcanhar de Aquiles das mídias sociais. Como se o jornalismo tradicional, e somente ele, fosse capaz de verificar a veracidade do que é veiculado. Ora, é largamente sabido que, na infância da rede, da qual mal saímos, notícias falsas são abundantes – tanto que seu manejo pode facilmente eleger um presidente. Umberto Eco estava coberto de razão quando disse que a internet era habitada por uma legião de idiotas – declaração que lhe custou a acusação de ser um netskeptic.

A suspeição levantada acerca da credibilidade da web é, no entanto, apenas transitória. A rede veio para ficar e, diante de seu avanço inexorável, é cada vez mais necessário que seus usuários dominem uma das habilidades descritas por Howard Rheingold como dentre as competências essenciais à aprendizagem no século 21, a saber, crap detection (detecção de lixo). O exemplo clássico de Rheingold é uma biografia falsa, caluniosa, de Martin Luther King, que desponta em primeiro lugar numa consulta ao Google, plantada num site mantido pela Ku Klux Klan.

Acreditar no monopólio de empresas jornalísticas sobre a competência para a verificação de fatos é mais ou menos como defender a volta de datilógrafos ou, ainda, de revisores em salas de redação. Pois novas tecnologias implicam em novas responsabilidades (que me perdõe o Homem Aranha pela apropriação).

Mas não é só por meio de notícias falsas que se pode distorcer a realidade. Padrões de omissão e ênfase também dão conta de imprimir claramente em mensagens posições ideológicas assumidas por seus enunciantes – e, neste ponto, veículos de imprensa são tão parciais quanto quaisquer perfis proselitistas nas redes sociais das quais tanto desdenham. Vejam, por exemplo, o contraste entre, de um lado, a ampla cobertura dada pela Globo a ações filantrópicas corporativas e, de outro, seu absoluto silêncio sobre as repetidas doações de alimentos pelo MST a populações mais afetadas. A imparcialidade jornalística é um mito.

Por que ignoro deliberadamente a maioria das mensagens de áudio e vídeo que recebo

Tenho pouca ou nenhuma paciência com a profusão de mensagens de áudio e vídeo que parecem ter se tornado a regra em algumas redes sociais. Na maioria das vezes, sequer as abro.  As ignoro por completo, pois são sequestradores de atenção por excelência. Além disso, tudo que é dito num áudio pode, por definição, ser dito de modo mais sucinto e eficiente por escrito.

Vamos por partes. Sob o ponto de vista de quem ouve, todo áudio tem, de pronto, duas limitações, a saber, 1) não pode ser acessado recursivamente, isto é, indo e vindo, como num texto; e 2) quem o ouve não pode recorrer a nenhuma espécie de leitura dinâmica para se inteirar de seu teor;  as hesitações e pausas dramáticas estão todas lá, sem que possamos, de modo algum (como, hipoteticamente, numa impossível operação de fast forward), evitá-las.

Não se pode, por exemplo, visualizar instantaneamente uma espécie de resumo de qualquer troca de mensagens de áudio. Isto por que, depois de um tempo, toda conversa mantida desta forma se parece, na tela do celular, com uma sequência de ícones, idênticos e indecifráveis, cujo conteúdo tende a se perder na memória. Numa redução ao absurdo, conversar por meio de  uma alternância entre mensagens de áudio parece, para qualquer observador externo, tão esquizofrênico quanto seria conversar com uma secretária eletrônica.

Lembram daquelas geringonças mecânicas, logo substituídas por similares digitais e rendidas definitivamente obsoletas por telefones celulares all in one, universalmente equipados com serviços de leave your message ?

Em benefício das secretárias eletrônicas e dos serviços de mensagem ao menos pode ser dito que os mesmos não têm o agravante do protocolo, inerente às mensagens de áudio, do recebimento imediato e, consequentemente, imperativo tácito de reação imediata.

Já mensagens de texto não padecem da mesma dificuldade de rastreamento, sendo facilmente recuperáveis – especialmente se o emitente foi gentil o suficiente a ponto de realçar, sublinhando, em negrito ou ainda com cores e tamanhos diferentes, aquelas informações que mais provavelmente precisarão ser recuperadas pelo leitor. Isto é fácil de comprovar: costumo frequentemente procurar (e encontrar rapidamente !) citações em livros que li; experimentem, agora, procurar alguma passagem específica em algum registro sonoro mais extenso que tenham ouvido. Desnecessário dizer qual das duas tarefas é a mais ingrata.

Já sob o ponto de vista do emitente da mensagem, ocorre que, pela própria natureza improvisada da fala, que não permite correções ou edições, o resultado costuma apresentar um nível de redundância impensável para um texto escrito. Salvo, é claro, em falas ensaiadas, como apresentações ou podcasts de palestrantes experientes. Tal não é o caso, no entanto, da grande maioria das mensagens de áudio que povoam as plataformas digitais – que são, via de regra, falas casuais e relaxadas que mais parecem divagações proferidas descontraidamente num café ao redor de uma mesa de bar.

Todos os problemas acima levantados em relação a áudios existem nos vídeos, com um agravante: estes últimos são, além de grandes sequestradores de atenção, também grandes ladrões de memória, devido à quantidade enormemente maior de recursos que consomem para a transmissão e o armazenamento de informações visuais.

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Recentemente, pude comprovar na prática tudo o que disse acima sobre a desnecessária prolixidade deste tipo de mensagem. Convidado a ouvir um relato in loco sobre a calamidade na Itália, dei o benefício da dúvida a este tipo de comunicação tão caro, talvez  por que mais pessoal e/ou informal, a tantos usuários de redes sociais – tão somente para constatar que a maioria das informações relevantes eram replicadas várias vezes, como se a repetição pudesse agregar, de algum modo, importância ao que estava sendo comunicado, de tal modo que o que poderia ser dito e mostrado nuns 3 minutos ocupou, estimo, uns 12 ou mais de cada destinatário atento.

Há, é claro, exceções. Me habituei, na quarentena, a concentrar todas as minhas compras com tele-entrega no WhattsApp (sim, me rendi ao aplicativo que tanto execrava). Envio listas a cada fornecedor e trato de fazer outras coisas enquanto aguardo que tenham tempo para me atender. Acontece que, no melhor mercadinho de meu bairro, processam os pedidos que faço por escrito e enviam – talvez, sei lá, por não terem tempo para operar o caixa e digitar texto ao mesmo tempo – uma série de mensagens curtíssimas, de poucos palavras, do tipo “tal coisa nós não temos”. Trata-se, no entanto, como eu já disse, de uma exceção.

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Toda mensagem de áudio traz, implícito em suas entrelinhas, o subtexto “você terá que me ouvir, mesmo que eu não tenha tido tempo e/ou paciência para lhe escrever” – imediatamente se configurando, assim, como uma declaração de poder ou, no mínimo, um constrangimento. Ou ainda, se preferirem, uma invasão de privacidade (“quem disse que eu queria parar o que estava fazendo para lhe ouvir com atenção exclusiva ?”). Deste modo, são desrespeitosas, por parte de quem as envia, para com quem as recebe por clamarem, obrigatoriamente, a atenção concentrada dos últimos. Até por que, para tanto, existe (ainda) o telefonema que, ao menos, faculta a quem teve a atenção reivindicada a opção de uma resposta compulsória (i.e., tem que ser ouvida) e imediata.

É por estas e outras que não sinto nenhuma culpa por ignorar deliberadamente a maioria das mensagens de vídeo e áudio que recebo. Sei. Hão de objetar que este tipo de comportamento denota algum tipo de resistência ao progresso, que mensagens de áudio e vídeo são o state of the art das comunicações digitais, e que rejeitá-las é coisa de velho. Uma rabujice. Paciência. Nem todo avanço tecnológico resulta, automaticamente, num ganho em qualidade de vida.

 

Por que (ainda) não uso WhatsApp

” Ah, havia me esquecido que não usas WhatsApp. Sorte tua ! “

ouvido ao fim de uma consulta médica

Muito me intrigou constatar que o Facebook, num movimento inédito (ao menos no Brasil), passou a anunciar, na TV e em outdoors, seus grupos de conversação, os quais sempre estiveram ali, disponíveis sem qualquer alarde. A propaganda, agressiva, se apropria da canção Day Tripper, dos Beatles ( por cujo uso certamente pagaram bem caro), para apregoar virtudes de grupos do Messenger ao conectar pessoas com interesses comuns. Por que isto acontece justo agora ? A resposta se me afigurou um tanto óbvia, a saber, para concorrer com os grupos do WhatsApp, os quais se capilarizaram muito mais do que os do FB.

Ruminei sobre o tema por algum tempo até realizar uma rápida e necessária pesquisa quanto ao modo de custeio do WA, plataforma gratuita livre de publicidade (!) – fato para o qual há esclarecimentos satisfatórios aqui. Foi quando descobri, acidentalmente, que

o WA é, antes de ser um negócio lucrativo, um serviço deficitário (!); e que

o WA foi comprado pelo FB em 2014 por uma bagatela avaliada entre 19 e 22 bilhões de dólares.

De pronto, então, minhas principais questões norteadoras passaram a ser

por que o FB compraria um serviço do qual já dispunha – ainda por cima numa plataforma francamente reconhecida como deficitária ; e

por que o FB promoveria uma propaganda autofágica, a concorrer, em última análise, consigo próprio.

Sem ser analista econômico, avento a hipótese de que o FB comprou o WA tão somente para absorver seu único competidor sério, progressivamente assimilando a seu Messenger as melhores funcionalidades do WA e deixando o último morrer aos poucos. Ao menos a sofisticada propaganda dos grupos do FB com Day Tripper se encaixaria nesta estratégia. Ou não – caso em que esta especulação não passaria de mera teoria conspiratória.

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Ante tal imponderabilidade (pois, afinal, quem sabe dos desígnios de grandes corporações a não ser seus executivos e conselhos de acionistas ?), preferi me deter sobre a diferenciação entre as duas plataformas. Para tanto, provoquei usuários e não usuários do WA a externarem prós e contras em relação ao serviço de mensagens hoje praticamente hegemônico. Deste modo, verifiquei que há praticamente um consenso quanto ao WA ser um meio de comunicação portátil, altamente eficiente, com ótima relação custo/benefício (para a qual a gratuidade é decisiva) e, por vezes, insubstituível. Fora isto, muitos detestam seus grupos de conversação e as mensagens de áudio.

Não percamos tempo com as últimas, posto que mensagens de áudio são, assim como as de vídeo, obrigatoriamente seriais, incompatíveis com qualquer processamento paralelo. Comparem-nas, por exemplo, com textos de quaisquer extensões. Textos são recursivos, i.e., podemos facilmente avançar ou retroceder na leitura dos mesmos, seja para interpretação, referência ou  melhor compreensão, saltando por sobre grandes blocos de um mesmo texto ou até entre um texto e outro sem, com isto, comprometer necessariamente nossa percepção sobre o todo. Com áudios e vídeos, não: numa operação de fast forward sobre os mesmos (análoga, se quiserem, à leitura dinâmica), algo essencial pode facilmente nos escapar. Como ocorre, por exemplo, quando perdemos cenas cruciais de uma boa narrativa cinematográfica.

Por esta razão, áudios (e vídeos) são sequestradores de atenção por excelência  e, como tais, deveriam ser banidas pelos códigos de ética, explícitos ou tácitos, de qualquer sistema de mensagens que aspire a alguma eficiência.  Ou ainda, se quiserem outra metáfora, usar mensagens de áudio quando se dispõe das de texto é como usar máquinas de escrever depois do surgimento de editores de texto: o advento dos últimos rendeu as primeiras obsoletas. Entretanto, por diversas razões (tom mais íntimo ou pessoal, rapidez de enunciação, reivindicação de atenção absoluta, etc.), as famigeradas mensagens de áudio teimam em coexistir com as de texto.

Cabe, ainda, ressaltar que a escrita se constitui, muito mais do que a fala, no meio por excelência de transmissão de conhecimento. Com alguma licença, se pode até especular sobre com quais limitações a filosofia, a razão e a lógica esbarrariam se tivessem que se restringir ao domínio exclusivo da oralidade.

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Grupos virtuais de conversação são bem diversos e, como tais, podem ser submetidos a uma tipologia. A diferenciação mais evidente é em relação à sua permanência. Segundo este critério, há, de um lado, aqueles grupos mais duradouros, atemporais, e, de outro, os mais efêmeros. Pertencem ao primeiro tipo os grupos de índole “tribal” tais como os de família, alunos ou ex-alunos de instituições, pessoas que compartilham uma mesma ocupação, predileção ou posto de trabalho e por aí afora. Talvez o mais célebre grupo atemporal do WA seja o de procuradores da Lava Jato. A propaganda do FB com Day Tripper se refere obviamente a grupos atemporais.

Grupos efêmeros são, por outro lado, criados para a instrumentalização de eventos específicos tais como festas e reuniões de trabalho, se extinguindo imediatamente ou algum tempo após a realização dos mesmos.

Ainda que a classificação de um grupo numa ou noutra categoria possa ser nebulosa, sem regras absolutas, em geral grupos atemporais tendem a aglutinar mais participantes do que os efêmeros. Talvez por isto grupos atemporais costumam apresentar uma taxa mais elevada de mensagens potencialmente irrelevantes para alguns participantes do que os grupos efêmeros. Se pode dizer, então, que, em geral, grupos efêmeros tendem a ser mais focados que os atemporais.

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O tamanho de um grupo afeta sobremaneira o comportamento de seus participantes,  especialmente no que se refere à sensação de pertencimento. Pois num grupo pequeno se pode facilmente permanecer só “na escuta” (a postura mais eficiente, de respeito à atenção alheia, quando não se tem nada relevante a dizer) na plena convicção de que os mais falantes sintam de que os mais silenciosos estejam presentes e atentos.

O mesmo não se dá em grupos mais numerosos, onde os mais quietos tendem a ser mais facilmente esquecidos. Por isto, abundam nestes grupos as notificações de presença: mensagens de “bom dia” e “boa noite” sem qualquer outro propósito que não o de se afirmar que se está ali. Como teletubies antes de dormir.

É, além disso, razoável supor que a publicidade seja mais eficiente (ou, pelo menos, algoritmicamente mais simples) entre os participantes de grupos mais numerosos e genéricos do que entre os de grupos pequenos e dedicados – daí, muito possivelmente, a estratégia agressiva do FB para fomentar os primeiros (eu e as teorias conspiratórias…)

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De volta à questão inicial de por que o FB teria comprado o WA, é tentador se especular que o primeiro estaria primordialmente interessado nos dados dos usuários do último – hipótese, é claro, veementemente negada pelo FB. Pois, muito embora o WA tenha como ponto de honra permanecer uma plataforma livre de publicidade, os dados de seus usuários são valiosos em se tratando de lhes direcionar anúncios customizados através de outras plataformas.

O que nos leva diretamente a outra questão: podem plataformas distintas estabelecer uma correspondência unívoca entre usuários de uma e de outra ? Segundo a BBC, sim, bastando, para tanto, que o usuário do FB forneça à plataforma o número de seu telefone celular – caso em que passará a receber, no FB, publicidade dirigida e sugestões de amizade com base em suas informações do WA.

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Se o FB vai deixar o WA morrer à míngua ou, contrário, explorar a coexistência das duas plataformas é uma pergunta cuja resposta só o tempo trará. Um forte argumento em favor da última hipótese é a manutenção da identidade das duas plataformas, a qual repousa por sua vez, sobre numa diferença essencial – a saber, a índole mais pública ou privada do que se posta em cada uma delas.

Tanto o FB como o WA permitem controle absoluto sobre a visibilidade de cada postagem. Tanto num como noutro, podemos nos dirigir desde apenas a uma pessoa até a totalidade de nossos contatos, passando por grupos de tamanho variável. Feita esta ressalva, cabe notar que cada plataforma, ainda que abrangendo exceções, possui uma vocação bem definida. Pensamos no FB quando queremos publicar algo visível a todos, sem discriminar este ou aquele destinatário. Ao contrário, recorremos ao WA para enviar mensagens a indivíduos ou grupos específicos de pessoa. Assim, temos que, enquanto no FB (salvo no Messenger) exercemos um discurso predominantemente público, o WA é bem mais afeito à comunicação privada, ainda que com grupos.

(Para sermos rigorosos, temos que reconhecer que só o Twitter e os blogs são meios absolutamente públicos, posto que, para se ter acesso às postagens de uma pessoa, é preciso, antes, ter sido aceito como “amigo” pela mesma. Ainda que este requisito seja facilmente comutável mediante ajuste nas configurações de privacidade do FB, é notório que a maioria de seus usuários deixam seus perfis visíveis somente a amigos. Com isto, devemos, então, ressalvar que o FB, mesmo sem ser obrigatoriamente público, é de índole muito menos privada que o WA)

A diferença entre a forma de discurso predominantemente pública ou, ao contrário, privada constitui, a nosso ver, a distinção essencial entre o FB e o WA, a justificar sua coexistência apesar da similaridade funcional das duas plataformas no que tange a compartilhar postagens por meio de redes sociais.

O discurso público favorece a transparência: nele, todas as falas de cada um são igualmente visíveis a todos – ainda que, com isto, tal franqueza exacerbada venha necessariamente a desagradar alguns, ensejando entre os mesmos, por vezes, enunciações contraditórias. Já o discurso privado, ao permitir a seleção de ouvintes específicos, faculta a todo falante a possibilidade de sustentar simultaneamente posições diferentes, por vezes incompatíveis entre si, para audiências distintas. Com isto, constitui o ambiente por excelência (ainda que não necessariamente), para segredos, intrigas, calúnias  e manipulações. Não por acaso, grupos de WA, particularmente os de família, já foram correlacionados ao fenômeno das fake news – disseminação de informações falsas que vem assumindo cada vez mais relevância e é utilizada, principalmente por meios de broadcasting, para denegrir a internet.

A tensão entre o discurso público e o privado, determinante para definir o modo como se configura a conectividade de cada perfil, coletivo ou individual, no mundo virtual, é o tema central de Public Parts (2011), obra seminal em que o netopian Jeff Jarvis, por meio de entrevistas inclusive com os fundadores do Twitter e do FB, reconhece vantagens da substituição de um status private by default (como era mais comum antes da web) por outro, public by default (viabilizado pelo advento da rede); e como formas públicas de presença virtual ensejadas pela internet vem transformando nossas vidas. A crescente hegemonia do uso de grupos no WA em relação ao de plataformas mais públicas como o Twitter e o WA sugerem enfaticamente que esta transformação ainda está longe de se tornar irreversível.

Esquerdopatas, petralhas e bolsominions; ou De como não inviabilizar um debate antes mesmo de começá-lo

Sempre que me deparo com expressões como “esquerdopata” ou “petralha” tenho imediatamente a vontade de me retirar do embate (pois este tipo de confronto não é digno do nome debate), deixando o(s) interlocutor(es) falando sozinho(s). Não preciso explicar outra vez por que considero ataques ad hominem – ou, como também são conhecidos, falácias de envenenamento do poço – um dos recursos mais pobres, rasantes, a serem utilizados numa contenda verbal, e por isto mesmo só empregado pelos piores argumentadores.

Não que este tipo de desqualificação sumária do(s) adversário(s) seja um expediente de uso exclusivo dos que se situam no campo ideológico da direita, como os exemplos por mim inicialmente citados podem dar a entender. A expressão “bolsominion”, porquanto divertida, talvez pela alusão aos simpáticos vilõezinhos à procura de um líder, é tão repulsiva quanto aquela que dá nome a este post. O recurso a umas ou outras mina, pelo escárnio que encerram, qualquer possibilidade de êxito num debate político – que é, a saber, a conversão à própria causa, pelo esclarecimento, de alguém anteriormente situado num campo adversário.

Devo confessar que eu mesmo já me vali, em mais de uma ocasião, movido pelo calor da discussão e seduzido por seu potencial cômico, de termos plenissignificantes como “bolsominion” – fato pelo qual me arrependo enormemente e doravante me policio para não repetir.

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Numa primeira análise, todos estes neologismos amplamente usados em pseudo campanhas políticas na internet visam a desqualificação prévia de adversários antes mesmo que seus argumentos sejam levados em consideração. É o que define a falácia do envenenamento do poço. Digo pseudo campanhas por que, sempre nestes casos, um lado trola o outro, sem sequer confrontar as bases de cada ideologia em questão – tudo se reduzindo, ao fim e ao cabo, a uma extravasão de ódio ao diferente. Em sua especificidade, tais termos assumem, no entanto, nuances bem distintas, as quais devemos examinar.

É difícil estabelecer a etimologia exata de uma expressão que viralizou como “esquerdopata”. Se o termo se originou num contexto raso, podemos inferir que denota um psicopata ou sociopata de esquerda. Numa versão repaginada, digamos, do clássico comunista comedor de criancinhas. Alegações recentes de apologia à pedofilia em exposições artísticas corroboram esta hipótese. Outra, mais insidiosa, sugere que o termo qualifique a priori o pensamento de esquerda como uma patologia, i.e., uma doença a ser combatida e/ou curada. Particularmente, acho a segunda hipótese muito pior do que a primeira, já que desmentir a alegação de que todo esquerdista é um assassino em potencial é muito mais fácil do que demonstrar que ele não é portador de nenhuma doença infecto-contagiosa, disseminada através de suas palavras, e que deve ser, portanto, evitado.

Já o termo “petralha” é mais francamente jocoso, por tentar mascarar o fato de existirem ladrões e oportunistas em qualquer partido político com a associação gratuita e leviana de que todo petista é ladrão. “Bolsominion” vai mais ou menos nessa mesma linha, identificando simpatizantes de Bolsonaro com um bando de malvadinhos acéfalos.

Inventariadas estas reduções pejorativas, temos que, enquanto a direita tenta desqualificar a esquerda mais com imputações de desvios de caráter, esta rebate com alegações de que militantes de direita não passam de inocentes úteis, desprovidos de inteligência e pobres de espírito. Se considerássemos apenas estes qualificativos, todo o conflito entre esquerda e direita não passaria, então, de uma disputa entre burros e malvados.

Com acusações assim de um lado e de outro, que variam do escárnio ao ódio, não é difícil entender por que o debate sobre o progresso da nação parece não evoluir nas redes sociais, mesmo quando nos dispomos a incluir entre nossos “amigos”, em prol do rompimento das bolhas discursivas, representantes fervorosos de ideais que abominamos.

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Jamais me esquecerei de um amigo dizendo, ao contemplar a passagem de um ônibus repleto de jovens ruidosos gritando bobagens pelas janelas, que “o ser humano em grupo é sempre mais idiota”. Isto já faz muitos anos. Mas lembrei ao pensar em por que nos regozijamos em trolar, por meio de memes ou tiradas engraçadinhas, adversários ideológicos no conforto da bolha dos que simpatizam com nossas ideias e atitudes.

Até que, hoje, em meio a uma daquelas longas discussões que não quis causar, depois de acusações de toda sorte e ácidas ironias, me assustei quando um dos contendores proferiu, ao se despedir, algo como “esperem para ver o que pensa o Brasil em 2018”.

Senti um calafrio. Pois, por mais que eu acredite estar do lado da razão e da justiça, tenho medo do próximo resultado das urnas. Principalmente por que, enquanto a esquerda se esfacela em busca de uma liderança que melhor a represente (qualquer escolar percebe isto), a direita tem se revelado enormemente pragmática e, o que é muito mais grave, proselitista.

Então, simplesmente não acho seguro ficar sentado sobre minhas convicções, à espera de que, no próximo pleito, a maioria ouça a voz da razão e varra de uma vez por todas os males que afligem a nação, hoje melhor traduzidos no programa da direita – do qual não tratarei aqui por fugir demasiado ao foco deste texto.

Outrossim, conclamo os que me acompanharam até aqui nesta linha de raciocínio a, ao invés de, nas próximas oportunidades em que se virem diante de adversários políticos, odiarem os mesmos ou deles escarnecerem – argumentarem, isto sim, de modo a convertê-los, ainda que parcialmente, a posições mais razoáveis e socialmente justas. Não deve ser tão difícil, dada a fragilidade intelectual da agenda da direita. Despersonalizem a discussão, os incentivando a, em vez de dar tanta atenção a palavras de quem identificam como adversários (às quais, automaticamente, pensarão em refutar), procurar se informar em fontes independentes (devidamente curadas, já que ninguém é bobo). Pois que prazer intelectual maior há do que o de seduzir, pela qualidade dos argumentos, um adversário ?

Anotem aí. A revolução não vai se dar pelar armas, muito menos pelo bate-boca pré-eleitoral. Quando vier (espero que já em 2018), será, antes de tudo, uma revolução cognitiva.