Como votei no último domingo

Passado o pleito (ao menos o primeiro turno) e, portanto, já sem risco de cometer proselitismo, abro meu voto. Votei, é claro, na Melchionna para prefeita e, decidindo na última hora, no Matheus Gomes para vereador. Por três razões: ele é negro, jovem e pobre. Há tempos já havia decidido votar em candidatos do PSOL por ser o partido mais à esquerda que conheço. Se, na última hora, converti o meu voto, por sugestão (solicitada) de meu filho Pedro, para o Matheus, foi por entender que ele, com os três atributos supracitados, estaria mais imune aos vícios da experiência parlamentar.

É claro que, antes de decidir, tratei de conhecer um pouco de sua plataforma, lida por meu filho no celular enquanto nos dirigíamos às zonas eleitorais. Mas programas de candidatos são todos muito bonitos e parecidos entre si – respeitado, é claro, o viés ideológico. Noutras palavras, sempre haverá miríades de candidatos (ouvi dizer que nunca houve tantos como neste ano) dispostos a defender um ideário mais à esquerda ou à direita, dependendo da inclinação de cada eleitor. Só que, como camisetas e bandeiras de torcidas num grenal, todos os discursos dentro de uma mesma parte do espectro político se assemelham.

O que me passou pela cabeça, no caminho da urna, é que mais importante não são as intenções explícitas de cada candidato, mas sua história pregressa. Uma vez eleitos, parlamentares não tem tantas oportunidades como projetam nos discursos eleitorais de promover mudanças. Ficam mais ou menos restritos aos comandos de votação de seus respectivos partidos. Até podem, vez que outra, proferir da tribuna discursos inflamados que, no entanto, pouco afetam as intenções de voto de terceiros, já alinhados, por “contrato”, com diretrizes partidárias. Com sorte, redigirão, cada um, dois ou três projetos de lei durante seus mandatos. Então, privilegiei, na hora de votar, quem achei menos familiarizado com a abjeta forma tradicional de se fazer política (acordos, conchavos e atenção aos lobbies) e, portanto, menos propenso a trair as aspirações daqueles que representa, tão carentes de uma voz capaz de fazer valer seus anseios nas leis que regem o mundo compartilhado por jovens e velhos, negros e brancos ou pobres e ricos.

As análises eleitorais. Ouvi de tudo. Da esmagadora derrota do PT ao fracasso retumbante do bolsonarismo, que literalmente tirou da disputa todo candidato chancelado pelo presidente. O que mais me impressionou, todavia, foi a grande asneira de que “o eleitorado, moderado, preferiu a experiência aos extremismos”. Bullshit. Ao menos em sua câmara de vereadores, Porto Alegre escolheu uma renovação radical, expulsando conhecidos políticos profissionais mais escaldados, com excessão, talvez, apenas de Mônica Leal, Cezar Schirmer ou Idenir Cecchim.

Fiquei feliz com o resultado, devo admitir. Tanto com o PSOL ter feito mais vereadores do que outros partidos como com o crescimento da bancada negra. Auspicioso. Somente hoje, baixada a poeira das análises, fui às redes sociais para conhecer um pouco melhor meu candidato. Gostei do que vi. A começar pelos “amigos em comum”, pessoas cuja inteligência política respeito e admiro. Mas do que mais gostei foi encontrar logo, sem muito esforço, entre suas palavras, a expressão “mudança radical”. Que a rotina e as tentações da vida parlamentar não arrefeçam seu ânimo !