De como grupos de WhatsApp perdem por ser seriais ao invés de paralelos

Já disse aqui ter ouvido de alguém, ao saber que eu ainda não usava WhatsApp, a exclamação “Bem que fazes !”. Depois, quando me rendi, por razões práticas, ao aplicativo, me disseram que “O importante é ficar longe dos grupos.” Hoje, tendo sido encontrado por dois grupos de ex-colegas, entendo melhor a segunda ressalva.

Grupos de mensagem trazem na origem o seguinte dilema. Quando criados, desejamos que se tornem, de algum modo, ativos (ou morrerão de inanição). Acontece que, tão logo sediam alguma discussão que valha a pena (quase sempre sobre política, religião, gênero ou futebol, sistematicamente banidas por moderadores mais incisivos), passam rapidamente de ativos a hiperativos, o que torna sua leitura proibitiva, por vezes até incompatível com outras atividades. Já havia observado esta peculiaridade em pessoas que me são queridas, mas só entendi mesmo o processo quando entrei, eu mesmo, na brincadeira.

A meu ver, o grande problema dos grupos de mensagens é o design serial das plataformas, que publica tudo o que é dito num único stream que não distingue (ou o faz apenas precariamente) um tema dos demais que competem pela atenção em cada grupo. Desta forma, a prolixidade, outrossim tão desejada por mentores de grupos “sociais”, logo se torna a principal dificuldade em sua leitura, pois não há como, num fluxo contínuo e desordenado, visualizar locuções relacionadas – a menos, é claro, que diferentes threads viessem classificados (por tags ou categorias, por exemplo) e fossem exibidos em colunas separadas; mas isto seria francamente hostil ao design ostensivamente simplificado das plataformas de grupos de mensagens.

O design da internet e, de certo modo, dos blogs é, ao contrários, paralelo, i.e., neles, é possível rastrear facilmente qualquer quantum de informação buscada em meio a uma enorme quantidade de conteúdos simultaneamente disponíveis.

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O problema da redundância. Que inflaciona à exaustão a leitura por meio de falas repetitivas, conquanto elegantes. Aqui, há também um fator psicológico em ação. Qualquer um pensaria duas vezes antes de redigir, revisar e publicar algo situando um problema num contexto maior, o analisando e, quem sabe, até propondo alguma solução. Já num grupo, em que todo contexto já foi clara e redundantemente explicitado em locuções anteriores, não hesitamos em agregar nossas posições. Só que, ao fazermos, raramente nos limitamos a expressões lacônicas como “concordo” ou “discordo”, recorrendo, ao invés, ao fútil exercício de dizer a mesma coisa com outras palavras, quase sempre rebuscadas. Isto é exatamente o contrário da prática comum em plataformas colaborativas, como a wikipedia, em que só se edita aquilo que ainda não foi dito (um ideal para a escrita acadêmica que espero ainda viver para ver).

In short: lugar de textão é em blog. Lê quem quer; ignora quem não quer ler. Sem atrapalhar quem busca no stream dos grupos de discussão alguma informação útil ou nova – ou mesmo uma interação digna do nome (quase sempre de discordância). Posso ser um sonhador, mas acredito que, um dia, a internet será assim. Talvez depois que tenham, finalmente, implementado a web semântica.