Memes

Pessoas inteligentes não usam seu intelecto para obter a resposta correta; usam-no para obter o que elas querem que seja a resposta.

Rutger Bregman em Utopia para Realistas (2016), citando Ezra Klein, que disse, em How politics makes us stupid,

People weren’t reasoning to get the right answer; they were reasoning to get the answer that they wanted to be right

Conteúdo. As formas longas. O grande romance, a tese, o filme de longa metragem ou mesmo o artigo ou ensaio. Provavelmente como a maioria daqueles de minha geração, me acostumei a pensar que as grandes verdades e discussões, as abordagens mais completas e os argumentos melhor articulados estivessem confinados aos discursos mais prolixos.

Mas aí veio a internet e, com ela, a hipótese do Parêntesis de Gutenberg e sua mais popular realização, o meme, para virar minhas convicções de cabeça para baixo.

Não sou tão dogmático a ponto de deixar de testá-las, como um advogado do diabo, perante novos e estranhos modos de cognição trazidos pela web. Assim, me apressei em saber, anos atrás, por que meus filhos preferiam tão incondicionalmente navegar na rede em seus celulares a se fixarem em qualquer programação exibida na TV, aberta ou a cabo. O mito do multitasking: a TV e o celular ligados ao mesmo tempo. Obtive a resposta que já esperava: a rede lhes permitia mais escolha sobre uma quantidade muito maior, praticamente infinita, de conteúdo. Concordei de pronto. Ressalvando, é claro, que os conteúdos mais frequentemente acessados eram, então, de baixíssima qualidade. Foi na época em que youtubers estavam no auge.

Há poucos dias, intrigado por risos intermitentes, tratei de averiguar sua origem no ambiente privado da tela do celular de um deles. Foi quando tomei contato com a vasta comunidade de sites dedicados a produzir e acumular memes. Foi também quando me inteirei do fato de que professores já os usam, pasmem, como recurso pedagógico. Interessado, como sempre, em transformações linguísticas e midiáticas (as primeiras são sempre produto das últimas), esbocei um mergulho neste universo. Começando por buscar uma definição.

Por assumir diversas formas, muitas delas ainda não descobertas, um meme se esquiva a uma definição abrangente – melhor podendo, antes, ser descrito por um conjunto aberto de exemplos que realcem suas características comuns. Tentemos, então, uma abordagem aproximativa.

Morfologicamente, memes são constituídos pelo acoplamento de duas partes presentes em todos, a saber:

uma ou mais imagens, que podem ser

genéricas e recorrentes (i.e., presentes em vários memes), de significado aberto, aplicável a muitos contextos específicos ou

específicas de um meme em particular; e

textos curtos,

de não mais do que uma frase ou, muitas vezes,

sem frases completas, como legendas a identificar partes das imagens.

A elevada taxa imagens/texto típica dos memes é o principal fator deles terem assumido um lugar privilegiado entre as formas de discurso mais populares na era digital. Muito mais do que sua faculdade de comunicação instantânea (em oposição a textos, cuja leitura implica em maior disponibilidade de tempo, tanto maior quanto for a extensão do texto), seus armazenamento e circulação seriam impensáveis em épocas anteriores, nas quais as memórias eletrônicas necessárias eram muito maiores e mais onerosas. Para compreender o fenômeno, basta pensar em quantos bytes são necessários para armazenar uma imagem, mesmo de baixa resolução, em relação ao suficiente para conter o texto sucinto usualmente associado a um meme. Tais miniaturização e barateamento das memórias eletrônicas são cruciais para corroborar a hipótese do Parêntesis de Gutenberg, segundo a qual estaríamos no final de um período histórico dominado pela escrita, iniciado com a invenção da imprensa, e no limiar de uma “segunda oralidade”, na qual a comunicação repousará muito mais sobre sons e imagens do que sobre textos. Mesmo sem saber se tal profecia é correta, não há como não reconhecê-la como fascinante.

Já foi dito que memes podem assumir diferentes formas. Dois dos tipos mais populares são:

os de imagem única recorrente, significando uma proposição lógica aplicável a diversas circunstâncias, especificadas nas legendas. Por exemplo, a bofefetada desferida por Batman em Robin; e

pares de imagens denotando diferenças entre situações análogas cujo tratamento deveria (ao menos no entender do enunciador do meme (pois todo meme é um discurso)) semelhante. Como exemplo, o popular “igualdade X justiça” com pessoas de diferentes estaturas espiando por sobre uma cerca de altura uniforme, com (justiça) ou sem (igualdade) caixotes para erguê-las.

Memes funcionam como silogismos complexos, pelo encadeamento das premissas representadas pelas imagens e pelas partículas de texto, quase sempre visando um “riso ontológico” em razão da evidenciação súbita, como uma “sacada” ou insight, de uma realidade secreta superposta à aparente.

Gostemos ou não deles, os memes vieram para ficar, principalmente em razão de sua compatibilidade tecnológica. Primeiro por se valerem de imagens – muitas vezes recorrentes e, portanto, reconhecíveis mesmo em baixa resolução – e de textos extremamente compactos. Tais atributos guardam estreita afinidade com as minúsculas telas em que são, na maioria das vezes, visualizados.

Segundo por que, ao evocar ao invés de explicar, transmitem ideias instantaneamente, sem a necessidade de leituras mais demoradas. Isto não deve ser subestimado. Façam uma experiência. Corram os olhos pelos memes de uma timeline até chegar ao ponto em que checaram atualizações pela última vez. Provavelmente, poucos minutos terão sido suficientes para a tarefa.

Em seguida, tentem ler o conteúdo de todos os links postados na mesma timeline desde a última checagem. É quase certo (salvo, é claro, em razão da taxa meme/link específica de cada timeline) que jamais chegarão ao ponto da última checagem. Concluímos, então, que memes são muito mais afeitos do que links externos à velocidade – ou, se quiserem, algaravia – das redes sociais.

* * *

Minha bronca com memes. Entendam a epígrafe deste post neste contexto, i.e., mesmo reconhecendo a irreversibilidade dos memes como modo de discurso, me reservo o direito de ruminar sobre suas limitações.

Conquanto minhas preferências estéticas contribuam para tanto, não gosto de ser tachado como conservador. Me interessam as evoluções culturais (ainda que, inicialmente, possa não compreendê-las). Estou longe de ser um saudosista, daqueles que lamentam o fim da fotografia analógica ou do disco de vinil – até por que as vantagens destes meios extintos não tem nada a ver com sua tecnologia arcaica, mas, pura e simplesmente, com o excesso que define a era digital. Mas isto é outro assunto.

Então, me dispus (e, por tabela, também vocês que me seguem por estas linhas) a esmiuçar por que memes causam a alguns tanto mal estar, impaciência e irritação. Concluí que tem a ver com seu significado fechado, pois não há como interpretar um meme de outra maneira que não aquela explicitada. O meme é a piada explicada, desenhada para quem não a entender. Isto elimina, de certa forma, o prazer e a vantagem da construção pelo apreciador de uma percepção individual de discursos mais prolixos, como um filme ou um romance. Assim, um meme pode ser entendido como antítese da arte, por implicar, ao contrário de obras abertas, num entendimento único.

Mas alto lá: o que apreendemos num meme que já são sabíamos anteriormente ? Enquanto o texto é capaz de explicar, o meme tão somente evoca. Talvez por isto tenha sido absorvido pela pedagogia. Soube por meu filho mais moço que professores utilizam memes em provas escolares, como perguntas plenisignificantes, pedindo a alunos que descrevam o que está representado nos mesmos como forma de testar suas capacidades cognitivas, lógicas e discursivas. Talvez não seja, então, uma má ideia.

Last but no least, todo meme é uma potente enunciação de opinião. Por meio dele, é sempre possível identificar onde se situa seu enunciante num espectro ideológico. Ao mesmo tempo, o meme é, por seu significado unívoco, avesso à nuance.  Um atalho para um entendimento que suprime a possibilidade de qualquer contraditório. E suas premissas subentendidas inibem (para não dizer que dispensam completamente) qualquer verificação ou discussão. É por isto que são tão afeitos ao proselitismo, às fake news e, em última instância, ao discurso político da pior espécie, a saber, o dos slogans e palavras de ordem.

Ode a meu amigo livreiro

Me tornei um leitor maduro. Explico. Até pouco tempo atrás, tinha lido quase todo meu “repertório” acumulado até pouco antes de completar 30 anos, quando me tornei, segundo aquele a quem dedico este post, “um leitor de catálogos e manuais” (não canso de repetir esta definição que adoro) e, ultimamente, nem isto. Bem, mais exatamente, até o Milton se tornar livreiro – fato decisivo, como veremos adiante, para modificar, espero que de modo duradouro, meu hábito de leitura. Antes, porém, breves considerações sobre trocas de carreiras.

É complicado, para aqueles que , como dizem, já cruzaram o Cabo de Boa Esperança (para não usar termos infelizes como Terceira ou Melhor Idade), redesenhar suas vidas. Primeiro, por já não se poder contar mais com a disposição da juventude. Ou, mais precisamente, é necessário se conciliar a disposição mental (que parece crescer com a experiência) com o declínio da disposição física. Depois, há circunstâncias peculiares a cada campo ocupacional, as quais se dividem em duas categorias – a saber, a confiança de terceiros na capacidade de trabalho e atualização de quem se aproxima da aposentadoria e a própria incerteza decorrente da instabilidade do cenário ocupacional (desgraçadamente conhecido por mercado de trabalho), típica dos dias que correm.

Tais fatos servem para realçar a juventude mental e a ousadia de meu amigo que, depois de, aos 50 anos, deixar uma bem sucedida carreira em tecnologia da informação (é assim que chamam ?) para virar jornalista e, novamente aos 60, largar tudo (bem, quase tudo: ele ainda publica assiduamente em seus blogs) para se tornar livreiro. Não canso de repetir sua história, quase como um mantra de autoajuda para aplacar a insegurança congelante dos mais jovens.

A principal razão de eu considerar seu movimento de virar livreiro um de extrema ousadia é que, mesmo tendo amado a literatura desde (deve haver uma expressão melhor equivalente a “a mais tenra idade”…), Milton comprou uma livraria exatamente quando muitas começam a fechar suas portas, a começar pelas maiores. Tal se deve à suposta “morte dos livros” ensejada pelas mídias digitais e preconizada pelos mais alarmistas. Ora, é claro que o livro não vai morrer, como sustentam sensacionalmente os filósofos do Parêntesis de Gutenberg. Não é possível, no entanto, se acreditar que a leitura de livros e impressos em geral seja hoje tão hegemônica como em tempos anteriores. Bem mais sensato é reconhecer que livros vem se tornando, pouco a pouco, um território de especialistas. É contra esta tendência que se posiciona o intenso ativismo bibliófilo. É também esta tendência que faz da decisão de alguém se tornar livreiro hoje uma de extrema ousadia, exclusiva dos que não nasceram para coisas pequenas.

* * *

So much for the context. Tratemos de nos ater ao prometido no kaput, namely, de como a súbita disponibilidade de um amigo livreiro me tornou um leitor, senão melhor, ao menos mais contumaz. (este é um daqueles posts de desfecho previsível, mas vamos lá)

Semana passada, ouvi de um psicólogo que, ao contrário do que reza o senso comum, as livrarias não estão fechando devido à leitura em meios digitais, mas por causa da Amazon. Em suporte ao argumento, citou um par de livros (o CID (código internacional de doenças) e um outro) que, orçados em grandes livrarias, custavam em torno da terça ou da quarta parte no gigante do comércio online.  Ao externar seu espanto, ouviu de um livreiro resignado o conselho “compre sem hesitar !”. Nossa conversa enveredou, então, pela análise dos fatores econômicos e logísticos por trás de tal discrepância mas que foge, no entanto, ao (vá lá: escopo, de uma precisão semântica indispensável, é um baita clichê…) deste texto.

Antes do Milton comprar a Bamboletras, eu já tinha encomendado lá alguns livros, movido pela facilidade de poder contatar pelo facebook Lu Vilella, sua proprietária anterior. Não foi, no entanto, só pela conveniência que intensifiquei minha relação com a livraria após sua aquisição. Pois é igualmente fácil, além de muito mais barato, comprar livros pela internet e recebê-los pelo correio. De fato, sigo usando o expediente para importar um que outro volume, cuja aquisição por meio de livrarias físicas seria demasiado trabalhosa e demorada, além de onerosa.

Concluo, então, que, mais do que qualquer facilidade, o que ainda me leva a frequentar livrarias (bom, na verdade, apenas uma) é a qualidade da experiência. Não gosto de garimpar em estantes: o excesso de oferta tem para um geminiano um efeito sinestésico paralisante. Não troco por nada, isto sim, a possibilidade de conversar com o próprio livreiro ou seus ilustrados colaboradores. Gente que conhece minhas preferências de leitura e, como tal, é capaz de emitir recomendações confiáveis. O livreiro como curador. Ou, se quiserem, personal booker. E isto é praticamente impossível em grandes livrarias.

* * *

Aos 20 anos, podíamos nos dar ao luxo de ler qualquer coisa que nos caísse nas mãos. Pois o tempo era uma commodity abundante e, portanto, não reputávamos leituras supérfluas como tempo perdido. Aos 60, é bem diferente. Começamos a ver o tempo como mais escasso e, logo, precioso. É por isto que, na maturidade, só consagramos tempo a leituras precedidas por fortes recomendações. Imperiosas, eu diria.

Tão logo me dei conta desta nova realidade, pensei que, doravante, só teria olhos para a não ficção até que, apenas mais recentemente, comecei a me reconciliar também com a ficção, com a qual tive tão pouco contato. Clássicos dos quais sempre ouvira falar sem jamais conhecer por experiência própria. Ainda que não saiba explicar por que bons livros fazem tanto bem, devo o hábito de sua leitura indubitavelmente ao Milton. Vida longa a ele e a sua aconchegante livraria !

Como formar um pensamento sem história ? ou Sobre imagens e palavras (i)

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Amoras silvestres que ensejaram a conversa reproduzida na primeira parte deste post.

Este texto pertence à série sobre as razões pelas quais estou no facebook, subsérie conversas que se tem por lá, e poderia se chamar, também (se o título não ficasse muito longo), eu sigo (iii) Luiz Afonso Alencastre Escosteguy.

Nunca encontrei Luiz Afonso pessoalmente. Tive, no entanto, com ele, em caixas de comentários, algumas das mais interessantes conversações mantidas nos últimos tempos. Como, por exemplo, a que segue. Suscitada por uma provocação vinculada à postagem da foto acima. Tudo começou com o seguinte:

A última foto que postei já foi curtida 31 vezes. A divulgação do último post que publiquei, 4. Estes números devem querer dizer alguma coisa. Are images any better than words ?

Ao que Luiz Afonso prontamente retrucou:

Significa apenas que, em geral, as pessoas não entram no FB para ler. FB é entretenimento e não fonte de informação ou de leitura. Tirando os blogs jornalísticos, o acesso a textos perde de longe para o de imagens. Comigo – e com quase todos os que escrevem – acontece o mesmo…

Ocorreu, então, o seguinte diálogo:

Augusto: Ou seja, tudo se resume, no fundo, à velha e boa oposição entre lifecasting e mindcasting. Sonho com o dia em que o facebook e seus concorrentes ofereçam filtros inteligentes capazes de distinguir um do outro. Com os quais será bem mais fácil constituir PLNs.

Luiz Afonso: E tem mais, quanto mais posicionado for o texto, menos lido, menos curtido e menos comentado.

Augusto: (curioso: por que a exposição virtual é tão temida?)

Luiz Afonso: Por que poucos são capazes de sustentar argumentos, ideias ou de serem coerentes. Na maioria são repetidores de manchetes e não passam muito disso.

Augusto: Entendo. Uma civilização de slogans. Posso copiar esta conversa no blog ?

Luiz Afonso: Uma geração perdida. Tenho visto jovens de 20 a 35 anos que sequer conhecem fatos da história que temos por notórios. Como formar um pensamento sem história? Como ser crítico sem história?

Luiz Afonso: Pode, claro!

Augusto: Título provisório para o post: como formar um pensamento sem história ?

Augusto: (outra hora, te falo das raríssimas exceções que conheço ao princípio de que não há CC competente…)

Luiz Afonso: Se não existissem exceções, não seria regra hehehe

Luiz Afonso: Voltando ao teu post, esse foi o maior mal causado pela mídia: o imediatismo da solução pronta nas manchetes. Eliminou, com o passar dos anos, a capacidade das pessoas de irem atrás de mais informações/conhecimentos para fazerem a crítica do que recebem. E ir atrás de informação/conhecimento é ir atrás da história, da história que a mídia esconde. E assim também nas escolas…

Augusto Maurer: Outra coisa: que tipo de imagem posso usar para ilustrar essa conversa ? Pois, afinal, o Milton Ribeiro insiste muito que é bem mais fácil divulgar textos vinculados a imagens do que sem elas.

Luiz Afonso: Augusto Maurer, Sempre uso imagens nos posts. A escolha envolve técnicas de comunicação e, claro, sensibilidade…

Luiz Afonso: AH, e usaria essa imagem para ilustrar o post

imagens X palavras

* * *

Nessa mesma conversa, outros comentaristas também se referiram à primazia da imagem sobre a palavra como uma tendência importante em nossa época. Sempre que me deparo com este tipo de discussão, me vem imediatamente à mente a instigante formulação do Parêntesis de Gutenberg, ao qual já me referi aqui, segundo a qual estaríamos vivendo o ocaso de uma era de predomínio da escrita, delimitada no início pelo advento da imprensa e no fim (suponho) pela omnidisponibilidade de tecnologias visuais, como em tablets ou smartphones. Antes dele, dominavam as narrativas orais. Depois, viriam as visuais.

Então, de acordo com os estudiosos que o endossam, não haveria um problema maior no fato observável de que gerações mais recentes tenham cada vez menos familiaridade com a linguagem escrita, pois estaríamos no limiar de uma nova era de comunicação essencialmente visual. Faz sentido. Pois nativos digitais passam cada vez mais tempo se relacionando com telas. Seja interativamente ou apenas vendo, na melhor das hipóteses, podcasts e vlogs de algum youtuber ou, na pior, séries de TV. Não mencionei os jogos tão somente por que estes merecem um olhar mais dedicado.

No intuito de se estabelecer a importância relativa entre som e imagem em canais e meios de comunicação, um observador arguto poderia idealizar o experimento de, primeiro, ver televisão sem som e, depois, ouvir seu som sem ver a imagem para, então, decidir em qual dos dois modos consegue entender melhor o que se passa no programa transmitido. Alguém, dada a atual farra da ciência institucional, deve nalgum momento obter algum subsídio para uma pesquisa nestes moldes. Enquanto isto não acontece, podemos tergiversar, por exemplo, sobre se não seria bem mais fácil entender o cinema sem áudio do que sem imagens – enquanto a TV seria, por sua vez, bem mais incompreensível sem audio do que sem imagem. Fora, é claro, em transmissões de partidas de futebol. Sei lá. É só um palpite.

Cabe, ainda, observar que, enquanto praticamente toda postagem compatível com a categoria de mindcasting é fortemente apoiada sobre algum tipo de linguagem verbal, seja ela escrita ou não, já aquelas reconhecíveis como lifecasting se valem com frequência bem maior de recursos exclusivamente visuais. Como provam todas as postagens de selfies, foodporn e afins. Então, se for assim – e se os defensores do Parêntesis de Gutenberg tiverem razão – rumamos para uma era obscurantista na qual todo conhecimento só estaria ao alcance de uns poucos iniciados, porquanto letrados. Só nas piores distopias, como em Farenheit 451, se imaginou um porvir tão tenebroso.

Melhor não pensar nisso. Principalmente por que, até lá, dá para ter muitas conversas como essas que só as redes sociais ensejam. Curioso. Mesmo sem ter jamais encontrado Luiz Afonso pessoalmente, sei, graças às redes, que nutrimos as mesmas paixões pela escrita e pela cozinha. Mantidas as devidas nuances. Pois, enquanto me dou melhor com panelas, ele é um exímio assador. Alguém duvida ?

torta de pernil de cordeiro
Torta de pernil de cordeiro feita por Luiz Afonso.